05/02/2006



Alda Lara ( Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque ) nasceu em Benguela, Angola, a 9 de Junho de 1930 e faleceu em Cambambe, a 30 de Janeiro de 1962. Veio, porém, muito nova para Lisboa onde fez o 7º ano do liceu. Seguidamente, frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, tendo-se licenciado nesta última. Foi casada com o escritor Orlando Albuquerque que se propôs editar-lhe, postumamente, todos os poemas num volume e os contos num caderno.

Da sua obra poética destacam-se "Poemas", 1966, "Poesia", 1979, e, "Poemas", 1984.

Após a sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira, actual Lubango, instituiu o Prémio Alda Lara para Poesia.

Presença Africana

E apesar de tudo,

ainda sou a mesma!

Livre e esguia,

filha eterna de quanta rebeldia

me sagrou.

Mãe-África!

Mãe forte da floresta e do deserto,

ainda sou,

a irmã-mulher

de tudo o que em ti vibra

puro e incerto!...

- A dos coqueiros,

de cabeleiras verdes

e corpos arrojados

sobre o azul...

A do desdém

nascendo dos abraços

das palmeiras...

A do sol bom,

mordendo

o chão das Ingombotas...

A das acácias rubras,

salpicando de sangue as avenidas,

longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.

- A do amor transbordando

pelos carregadores do cais

suados e confusos,

pelos bairros imundos e dormentes

( Rua 11... Rua 11... )

pelos negros meninos

de barriga inchada

e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,

de tronco nu e musculoso,

a raça escreve a prumo,

a força destes dias...

E eu revendo ainda

e sempre, nela,

aquela

longa história inconsequente...

Terra!

Minha, eternamente...

Terra das acácias,

dos dongos,

dos cólios baloiçando,

mansamente... mansamente!...

Terra!

Ainda sou a mesma!

Ainda sou

a que num canto novo,

pura e livre,

me levanto,

ao aceno do teu Povo!...

Alda Lara, in "Poemas" ( "Sanzal Angola" de Carlos Pereira Gomes ).

3 comentários:

Anónimo disse...

E assim se vão construindo as pontes da lusofonia.

Anónimo disse...

Uma deusa desceu do Olympo e passeou por aqui...

Anónimo disse...

Um abraço miscegenado.