17/02/2007

Crisântemo


"Crisântemo," diz minha alma -
e uma flor nasce do nome.
Nas pétalas de invocá-la,
só de dizê-lo se acalma,
e dentro da flor se some.
"Alma," disse o crisântemo
quando eu o invoquei -
"reciprocidade é a lei
de conhecimento íntimo,
também em ti entrarei."
Quando entro na flor
e vou fundo até ao centro,
milagre do vero amor,
tenho a mesma flor cá dentro.
Mil pétalas voam em mim.
Em cada uma me assumo -
e na flor para onde vim,
e na flor que trago em mim
sou sempre diverso e uno.
Mil pétalas, esses mil seres
que a nossa alma contém -
um a um se os conheceres,
qual milhão de malmequeres,
conheces-te a ti também.
Basta que saibas olhar
as pétalas tal como são -
vê-las bem em seu lugar,
sem as querer analisar,
sem juízos de razão.
Que dos mil seres a soma
a um ser só se reduz:
mil pétalas, uma chama
que água e oiro derrama
num corpo que é todo luz.
Uma luz que é perfume,
um perfume que ilumina -
sendo água é como o lume.
Sendo fogo é como a brisa,
nem grande, nem pequenina.
E do oiro desse lume,
e das cinzas dessa chama,
nova Fénix se assume,
que do primevo negrume
renasce agora minha alma.
As pétalas, uma a uma,
apaga em tua mente -
deixa que o centro te assuma
pra que a alma fique una,
diversificadamente.
António Simões, inédito, in "Poemas Antigos".
Pétalas de Vidro - poema de António Simões,
fotografia e composição de Augusto Mota.

Sem comentários: