18/03/2008

vem, primavera

vem,
vem de noite, enquanto o monstro dorme,
vem, pela mão-madrugada de uma criança,
que é perfume e beijo, vento leve, prenhez avinhada,
ah! do vinho embriagador do tempo dos homens livres,
que há-de um dia sair do aconchego dos teus dedos
e existir nas flores e nos seios da tarde suavíssima
do teu enleio, companheira,
tarde que nunca anoitece, pura e constante,
transparente como a neblina vítrea
de uma canção secreta de núpcias;
vem pela noite espessa do nosso medo,
vem e apaga as cores do nosso arco-íris de incertezas,
e deixa que as mãos dos homens se prolonguem em teus ramos
e respirem em teu hálito de macieiras floridas -
vem,
e fecunda a terra de alegria
e fica para sempre a iluminar o nosso coração,
ó flor perfumada de luz!



Poema inédito de António Simões, Coimbra, 1960
"Quantos Passos", poema de Maria Toscano, com composição gráfica de Augusto Mota
Textos Transversais de Augusto Mota.

5 comentários:

emedeamar disse...

BEM DITO inédito!
e
mais !!!! pelos passos.

quantos passos nos separam da raiz
dessa cálida raiz iluminada?
(saíu, agora...)
Abraçoooooooo! GraaaaAAAATTTTTTTO!
:-)
mt

emedeamar disse...

ainda cá voltei porque o Poema de A Simões fez (mutatis mutandis!, claaaro) com
http://sulmoura.blogspot.com/2006/05/virs.html

Abraço! Obrigada!

Anónimo disse...

Sim , todos os poemas ,linha a linha, flor a flor, palavra a palavra.... e
....porque gostei, dá-me outro poeta os versos de retribuição: XOSÉ MARÍA ÀLVAREZ CÀCCAMO, do livro, A Escrita das Aves de Marzo, poeta gallego de 80.... ed tema 1997

OS Versos
un verso para cada atributo de teu ser terrestre
dous para o río da história que desembocou em min,
tres para verte xogando coas nenas da tua idade na praza maior,
catro para que vengas con vasos de prata e fume.

Cen palavras para a forza do teu corazón que levanta montes de rosas ,

unha esfera vidrada de versículos para que entres
a preparar unha mistura extraordinaria de licor de mandarina ,
um poema onde cantes coa voz extrema dos povos do deserto.

Unha oda en louvanza da tua dedicación aos traballos imposíbeis,
un romance fantástico onde apareces en alba con canción de aldea
levantando unha barca e cultivando
o xardín das adelfas na praia .
abraço aos poetas
JRM ( José Ribeiro Marto)

fernanda sal m. disse...

Em noite de Plenilúnio, chego aqui para dizer SÓ e nada mais que o poema de António Simões é tão forte e suave que até dói !
Um abraço por esta poesia , António Simões.

fernanda sal m. disse...

Curioso que só HOJE a tenha lido, reparo. Dia mundial da poesia ?
Nada é por acaso.