24/07/2014

Crónica




A SECRETA VITÓRIA





Mosteiro da Batalha - Capelas incompletas


Fazem as pequenas pedras os grandes edifícios. E pequenos, por igual ideia, parecem os homens que organizam as ditas pedras de modo a que a História encontre marcos no tempo que passa. Que passa para as pessoas, não para os monumentos. A Batalha, toda ela, vila e mosteiro de Santa Maria da Vitória, evoca essa comparação. Não é possível perante a beleza descomunal daquela pedra, evitar a íntima inquietude de sermos, nós pessoas, ínfima areia. E que só ela, junta e trabalhadora pedra, é eterna. Ainda assim, retenhamos de uma visita à Batalha (que é, como em tantos outros casos de amor, uma revisita) a noção de que a alma colectiva existe. E que olhando nós o que invisíveis e dissipadas mãos ergueram, também mãos damos ao que eles quiseram olhar por dentro e de frente: a alma da História, a nave do Tempo, as abcissas da Memória.
Visitada, revisitada, nunca esquecida, a Batalha exalta deste modo uma vitória mais secreta que a de Portugueses sobre Castelhanos: o triunfo da arquitectura sobre o esquecimento. Ou a morte da Morte, por assim dizer.


Daniel Abrunheiro  

in www.canildodaniel.blogspot.pt / 23 de Julho de 2014

foto de Augusto Mota


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