13/10/2005

( desferir )

Tudo parece igual, demasiadamente igual, se a aventura não der às mãos uma outra realidade. Tudo o que se toca é, então, velame secreto num adeus aos objectos. Os mastros serão nossos dedos em êxito perpétuo. "Desferir" é a palavra de ordem a cada passo e junto de cada objecto-aventura.
Em nada poderemos apoiar os pés. A aventura começa nesse exacto momento em que a voz embarga e algo não consegue gritar dentro de nós. São os soluços amarrados à própria garganta. São milhares de barcos que partem à aventura dentro de nós. Tudo é, de repente, outra coisa e, ou se naufraga nas plagas longínquas de continentes ainda absurdos, ou começamos a sentir o vómito da posse, o êxito gritante da carne em espasmos. O remate da aventura será o refrescar do rosto na espuma da ressaca. Tudo é, então, violento, mesmo o prémio da aventura na realidade dos próprios gestos.
Assim, temerosos, o que nos resta? Ou o barco a que nós diremos adeus, ou a travessia a vau de todo o oceano que anima as nossas vontades. A escolha é difícil. O perigo igual. O êxito comum.
Augusto Mota, inédito, in "O Artifício da Loucura", 1964.

8 comentários:

Anónimo disse...

E tudo recomeça num jogo onde a palavra é rainha. Aqui, Augusto Mota joga com o pensamento como se o mesmo fosse capaz de resolver o que o raciocínio esconde. A dualidade aparente entra a razão e a loucura.Eis o que diz "Tudo é, então, violento, mesmo o prémio da aventura na realidade dos próprios gestos".
Será real ou aparência?
o golpe final de mestre é desferido neste texto onde tudo é desconexo, até o artifício da loucura.

Anónimo disse...

Vim de longe e aqui me prendo a um gritante texto que me encanta. Há neste artifício de loucura mais razão do que à razão assiste.
Sou de longe e para longe parto.

Anónimo disse...

Nada me fará deter na leitura aparente de um sonho alquímico.
A obra ao negro de um outro Autor.
De Marguerite Yourcenar trago o ouro. De Augusto levo um argenteo sonho. o impossível aqui tão perto.

Anónimo disse...

Da razão à loucura...o passo de um anão.
Da loucura à razão...a imensidade de um texto sentido.

Anónimo disse...

Perde-se a razão e o sentido nestes arífícios da loucura. Em ambos os textos, porém, o êxito comum.

Anónimo disse...

meninos fico completamente esmagada...se o texto do Augusto já em si me deixara estupefacta, os vossos comentários, ao aprofundá-lo, tão sitecticamente, deixam-me mergulhada no mais profundo extase...
de facto, é alquímico este ressurgir do nada que só a Teresa captou no texto. brilhante, minha amiga.
um beijo profundo para todos...

...mas, como me fazem falta os comentários do Autor...sinto-me perdida...palavra!

Anónimo disse...

sintecticamente...foi lapso!
desculpem.

Anónimo disse...

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