17/10/2005

A palavra é uma estátua submersa, um leopardo
que estremece em escuros bosques, uma anémona
sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada. Rápida é a boca
que apenas aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das vogais.
António Ramos Rosa, in "A poesia serve-se fria!".

2 comentários:

Anónimo disse...

É preciso cantar, em conjunto, o canto inacabado de um País roubado, enxovalhado, de um país onde a poesia deixou brechas abertas no coração dos que ainda acreditam ser possível o amanhã.
Assim, em vogais e consoantes, António Ramos Rosa, o Poeta, nos deixou o sonho.

Quem o quer delapidar?

Anónimo disse...

ninguém, Anamar.
porque nós não o permitiremos, não é verdade, Amiga?