25/10/2005

Os Cabelos em Marte

Eu era uma pedra, um mapa, uma cidade, um nome
iniciando o seu percurso alquímico,
dizendo o tempo desconexo, enumerando cavalos,
borboletas de alfazema, ervas luminosas,
os pássaros e os saltérios ( os cabelos em Marte ).
Toda a vida esperei, com o rosto cego,
esperando a morte das crisálidas, a inocência
amarelecida,
de encontro às nuvens, cega pelo galope cego
dos cavalos cegos, seguindo a cegueira,
oh, a pobre cegueira parada dos meus dias,
a minha cegueira cintilante,luminosa, contudo,
esquecendo os relâmpagos,
na sua essência melancólica, na sua mecânica
de excessos.
Manobravam, sobre mim, as formas, os gumes
sem limites,
o corpo, os planetas sagazes,
tocada pelo profundo açafrão das estrelas,
entre balanças precipitadas,
velaturas nas janelas enunciando o espírito,
os anéis de fogo,
nocturnos arquipélagos expressando a unanimidade
das trevas,
os olhos nublados, numa turbulência sôfrega,
inventando asas, pérolas,
como uma rosa tímida, sumptuosa,
em joelhos sobrenaturais.
Maria do Sameiro Barroso, inédito, in "Idades Sonâmbulas".

3 comentários:

Anónimo disse...

De início,
os ecos de um poema
e uma lírica - a minha - ressequida, almeja a tua fonte...

Anónimo disse...

Perdi-me no sonho, ao ler-te, mas encontrei a antiga sabedoria que só traz a idade das manhãs geladas.

Anónimo disse...

é tão bom ler-vos sem comentar...

obrigada, meus Amigos!