Eu tinha mal contidas lágrimas
e o coração destroçado.
e me diziam: "a rendição convém-te! rende-te!"
mas o pior veneno seria melhor que a rendição.
os inimigos a pátria me roubavam
e o povo fazia-me sentir o gosto da traição.
porém, meu coração ainda estava no meu peito
e o corpo jamais entrega o coração.
tudo me levaram menos o carácter nobre,
a nobreza pode alguém arrebatá-la?
no dia da batalha eu não quis couraça,
e saí para a luta sem protecção para o peito.
mortifiquei a alma, julgando que a perdia.
a rodos o sangue então corria.
mas nem assim a morte quis chegar
p'ra me poupar ignomínia e submissão,
lancei-me na batalha julgando não voltar.
assim meus avós, assim sou eu:
quem sabe da raiz o ramo conheceu. Al-Mu'tamid, in "Al-Mu'tamid, Poeta Do Destino"
4 comentários:
Belo texto! Não conhecia!! Gostei!! :)
Al-Mu'tamid, o árabe poeta, o esteta ! Gosto sempre de (re)ler a poesia dele que encontro em livros que nunca vão para a estante, não vale a pena : estão à mão de semear, na mesa de cabeceira - Poeta do Destino, Meu coração é árabe e outros.E este apontamento, vindo do calor do sol do sul, tem outra magia ...Coincidência ; sabe que estou a ouvir um cd de música árabe al-andaluz, magnífico, oferedido por uma amiga ? "Rabih Abou-Khalil - Bukra"
Fernanda
muito obrigada, Bruno.
que sorte a sua, minha querida Fernanda!
Há tardes em que apetece tanto ouvir um canto árabe... são saudades de outras tardes bem mais quentes.
Enviar um comentário