03/01/2006

Ó pedra que estás parada

Ó pedra que estás parada,
Onde estão tuas raízes?
Mas ficas sempre calada,
Ó pedra, e nada me dizes.
Porque não voas então?
Que te impede de voar?
Se fosses meu coração,
Voavas solta no ar,
Como voa o pensamento
Que vai para onde quer.
Fosses tu irmã do vento,
Serias minha mulher -
E eu casava contigo
Fazia o que sempre quis,
Como amante, como amigo:
Ser para sempre feliz
Na solidez do teu corpo -
Ser um a soma dos dois,
Habitar-te como um todo,
( As asas vinham depois ).
Com a minha fantasia,
Teríamos aéreo lar -
A gente depois vivia
Só do sonho de voar.
António Simões, inédito, 2001. ( Do ciclo "poemas com pedras dentro" ).

5 comentários:

Anónimo disse...

Ora seja muito bem vindo, António Simões. Há tempos que não tinhamos publicações suas. É sempre muito agradável reencontrá.lo, porque o meu Amigo tem aquela faceta de nos surpreender sempre.

Anónimo disse...

As pedras são as únicas certezas passíveis de arremesso... aos ímpios da Literatura!
Um abraço, Poeta amigo!

Anónimo disse...

Olha quem está de volta ao convívio dos humildes mortais...o Poeta...o António Simões!

Anónimo disse...

Senhor Poeta, aquele abraço!

Anónimo disse...

A poesia de António Simões ( ele próprio ... ) é, passe a redundância, uma poesia muito poética . Joga com as palavras e os sentimentos mais sérios como se de exercício ou brincadeira se tratasse, fazendo malabarismos graciosos com imagens frescas mas que me fazem pensar no decurso da vida a montante. As pedras e as palavras... já um poeta disse que as palavras são como pedras. Aqui, as pedras são o sonho que as palavras plasmam. Sonho de voar, como o vento e o pensamento que vão para onde querem; o meu, por vezes vai para onde eu não quero... São mais fortes os ventos dele do que os meus. Mas para poder voar por sobre o mar, nas asas do vento, transformar-me-ia, gostosamente em pedra..