24/07/2006

Corro Vertiginosamente

Corro vertiginosamente, pelos reinos do opaco , a velocidade
ao centro.
Há corais luminosos, peixes estranhos, súbitos odores
e um texto que destila cândidos venenos.
Elejo o mundo, a língua, o tenebroso fluxo.
Sou tudo o que resta de um antigo papiro, pintado nas redes,
um deus pintado no túmulo de Seti I.
Persigo lentas galerias, desvairados violinos,
há raízes incandescentes que me surpreendem.
No meu corpo, há estiletes de bruma.
Pelo mundo coberto de versos marinhos,
há uma rede de peixes efervescentes
e mapas que definem a febre,
as muralhas, uma mulher sentada, sobre um feixe de enigmas.
Acorda-me um som cirúrgico.
Inútil é recordar as manhãs desordenadas.
De súbito, a lua nos olhos, os orifícios nocturnos,
um hausto violento a oprimir as sebes, o coração.
Sou tudo o que se desfaz, pela seda pura.
Amo os campos nocturnos que despenham no azul profundo
das turquesas.
Amo a chuva, com as suas bátegas loucas e os seus sarcófagos
lunares. Corro vertiginosamente, a velocidade ao centro.
Elejo o mundo, a língua, o tenebroso fluxo, os ventrículos
poderosos, as aurículas densas.
Penso nas múmias, no abdómen, coberto de panos impregnados
de resinas quentes,
nas facas de silex, leves como plumas, na cerimónia do espírito
revivendo, pela abertura da boca, anunciando o ankh
( símbolo de vida ),
e o sonho que repousa, como um escaravelho antigo,
originariamente colocado
sobre o coração
Maria do Sameiro Barroso, inédito, in "Idades Sonâmbulas".

2 comentários:

Anónimo disse...

O regresso da belíssima Poetisa.
Obrigada, Maria do Sameiro, pela beleza dos seus poemas e das suas "imagens poéticas".

Um beijo.

Anónimo disse...

a tripulação, em nome da Maria do Sameiro, agradece.

um beijo.