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Enquanto lavro o corpo da manhã o Sol, em cio, cavalga um cão de fogo por entre nuvens afiladas e a construção de cidades adivinhadas. Bem perto, porém, há o rodopiar incessante do disco rubro que agora se estampa em nosso olhar. Vemo-lo para além das nuvens. Vemo-lo em cima e para além deste corpo que se adelgaça no esforço de transportar o astro-rei a caminho de outras galáxias bem mais perto de nós. Rítmica é a sensação do sexo em desespero perante a ingenuidade artesanal do olhar, a firmeza da mão, o gravar da matéria. Assim se constroem as nossas cidades interiores, que ora são corpo de mulher, ora vielas estreitas por onde vagueamos a tristeza e as mãos vazias de tudo. As colinas ao longe agridem o espaço como justo contraponto a este paroxismo de dor e de prazer. Deixemos as coisas acontecer ao ritmo do tempo que tomou conta do nosso acaso.
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Textos Transversais de Augusto Mota.
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