I – 1958
Na minha terra,
Crianças não chegavam à tábua da broa
E berravam com uma boca
Onde cabia uma inteira:
- Ó mãe, quero broa! Quero broa!
Outras, mais espertas,
Subiam a uma cadeira e, com o cabo da vassoura,
Zás, caía a broa no chão!
Era tão simples!
Eu nunca fiz isso.
Nunca tive tábua da broa.
II – 2011 (com Luís de Camões por companhia)
Tivera tábua comprida como rio,
E broa, tamanho Lua cheia,
Crestada nos sorrisos das manhãs,
Mataria minha fome e cio,
Meus e do Universo!
Juntara cestos de laranjas e romãs,
Buscando mais do que amor, eia!
No meu e teu reverso,
Ainda que necessário fora voltar ao berço,
Engrolar um soporífero terço,
Tirar bilhete de ida sem regresso,
Secar-me num vasto poema, de excesso,
(Aqui emerge o Vate, o Laureado,
Que só pela rima fora convidado):
“Se tão sublime preço cabe em verso.” *
PEDRO FRAZÃO
28-10-2011 / * Canto I, estância 5.
fotos da Lua cheia e manipulação cromática: Augusto Mota
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