à memória do Adriano
1.
Como no pano
vai roendo a traça
assim o amor nos dói
no desengano.
E tal como o ciúme
nos doem as invejas,
quais larvas mordendo
a carne das cerejas.
E dói-nos a traição
mais do que nos dói
a dor sentida
no lume da paixão.
Neste país pequeno
tudo nos dói ou rói
dos costumes brandos
ao clima ameno
Que ameno e brandos
eles são suporte
dos fortes mandos.
E da tua morte.
2.
Pranto reprimido
ou desencanto encantado?
O que há ferido
o canto?
Que ácido veneno
ou inabitável solidão
te há corroído
o coração?
António Ferreira Guedes, 1983 (inédito)
Foto: Augusto Mota / um encantado poente sobre o meu jardim, 29.04.2012
Com a publicação deste poema inédito de António Ferreira Guedes, dedicado à memória do seu amigo e colaborador nas canções de intervenção, o Palácio das Varandas associa-se à homenagem que no próximo dia 5 vai ser prestada a Adriano Correia de Oliveira, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, homenagem integrada no 70º aniversário do seu nascimento, organizada pelo Sindicato dos Professores da Grande Lisboa.
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