Deus levitando na pureza da noite,
as minhas mãos adormecendo entre as florestas,
no degelo interior a sugerir a plenitude,
os domínios sagrados amadurecendo as vagas
e as entranhas,
os cumes lisos, no auge das vozes petrificadas. Sempre o desconhecido
- a vida inscrita nos seus labirintos -
as colinas rasgadas em frente às Idades da Luz.
No lume vertiginoso, o céu articulado,
um leque de essências, uma sinfonia de Bruckner. A matéria culmina e todo o ser desperta.
Todo o barco é berço e todo o ser é água
a completar o Todo.
Todo o ser é silêncio de desmembrados cravos de espuma.
Todo o ser é um rio denso e luminoso. Terrível é o grito - e maravilhoso, o dos bebedores
da sombra.
Trabalho a arritmia louca das canções,
penetro a fundo nos gritos.
Invento o tecido estranho das metáforas,
porque o universo é fresco e suavemente imortal. Desço pelas ladeiras íntimas, íngremes.
Amo esse esplendor e a louca sinfonia do mundo,
o silêncio de guelras abertas precipitando as sombras,
o corpo, com os seus pomares translúcidos, a lua e a vertigem, com suas paisagens tenebrosas,
revolvendo negras insígnias, cósmicos segredos,
raízes lentas, vagarosas,
janelas exactas do fulgor secreto
das árvores, dos nomes.
Maria do Sameiro Barroso, inédito, in "Idades Sonâmbulas".
4 comentários:
Trazes, Maria do Sameiro, a poesia em ti, a cada instante...
...a escrava, e ao mesmo tempo tão senhora.
Buscar docemente as vertentes do espanto,
e,
em ilhas de fogo ou em linha recta,
escrever o canto.
Assim quando digo que temo o desespero,
não sei se as emoções estão ainda puras.
e, com Maria do Sameiro, tecendo vamos...poemas!
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