Circulem, senhores, circulem.
Não parem junto aos mortos,
não estacionem no silêncio
não se detenham ante o sangue.
Circulem, senhores, circulem.
Não interrompam o tráfico,
não deixem de cumprir ordens,
não deixem de ser neutros
e desapiedados.
Circulem, senhores, circulem.
Há muita gente que tem horas,
há muita gente que tem pressa,
há muita gente que deve esquecer.
Circulem, senhores, circulem.
Façam de conta,
fechem os olhos,
tapem os ouvidos.
Circulem, senhores, circulem.
Deviam já estar habituados,
deviam não ter lágrimas.
Nem espanto, nem irmãos.
Circulem, senhores, circulem. António Rebordão Navarro, in "Na Liberdade".
6 comentários:
Em liberdade se escreve o que antes era proibido.
Imagens de um tempo que todos ( assim o espero! ) desejamos que não volte.
Mas nunca é demais lembrar!
Circulação imperfeita num belíssimo poema.
Um bj.
Não é permitido estacionar?
Aqui?
Para onde vão as palavras?
Aqui?
Proibidas?
Aqui?
Não acredito.
Conheço há longo tempo a Gabriela.
Um bj
É proibido apontar.
É proibido proibir.
Uma outra realidade não muito distante.
É preciso recordar.
É preciso não esquecer.
Lembranças sempre actuais, mesmo quando outros as querem esquecer.
sempre presentes, eis o nosso lema!... mesmo nos silêncios...foi algo que aprendemos e não esqueceremos jamais!
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