02/10/2005

MUDE

Mude
mas comece devagar,
porque a direcção é mais importante
que a velocidade.
sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente no campo,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas da casa.

Tente o novo todo o dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.
Tente.

Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva versos e poesias.

Lembre-se de que a vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativa.
Grite o mais alto que puder no espaço vazio.
Deixem pensar que você está louca.

Aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo,
a energia.
A positividade que você está sentindo agora.
Só o que está morto não muda!

Repito por pura energia de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!!!

Clarice Lispector

12 comentários:

Anónimo disse...

Não mudo.
Desculpem, mas gosto de mim mesmo assim.

Além disso,
já tenho demasiados cabelos brancos para andar com mudanças.

Anónimo disse...

Desculpe, Teresa, mas não concordo consigo.
Para mim a mudança - sem qualquer tipo de ofensa - é uma manifestação maior de inteligência.

Anónimo disse...

É a sua maneira de ver, José Artur.
E eu não discuto.

Anónimo disse...

Acho, em certa medida, que o José Artur tem razão.
Há até um velho ditado que diz:
"Só os burros é que não mudam".
Desculpa, Teresa, mas, nunca é tarde para mudar, e, a mudança pressupõe aprendizagem, exercício e, sobretudo, vontade.

Anónimo disse...

bom, meninos!
se eu adivinhasse que a publicação deste poema dava semelhante polémica, não o teria colocado.

mas vamos por partes...
cada um tem direito a expor a sua opinião.

a Teresa, segundo a sua maneira de ver, acha que já deu demasiadas voltas à sua vida, e, que é tempo para parar.
se calhar, até tem razão.

vá lá Terseinha, também não precisa ficar aborrecida.

e pensa um pouco nesta frase que retirei, agora mesmo de um e-mail que me enviaram -

"embora quem quase morre esteja vivo
quem quase vive já morreu".

Anónimo disse...

José Artur -
apesar de concordar consigo, em parte, acho que cada um tem o direito de levar a vida como muito bem entende.

bem ou mal, com mudanças e sem elas - todos nós, mesmo quando não queremos estamos a mudar - cada um deve levar a VIDA, porque esta é só uma, como melhor lhe aprouver. o que é bom para mim, poderá ser péssimo para si. e ainda bem que assim é, porque senão a VIDA era uma monotonia.

e o resto, desculpe, meu Amigo - são cantigas!

Anónimo disse...

mais do que aprendizagem, exercício e vontade, Anamar, a vida pressupõe TOLERÂNCIA, qualidade que às vezes nos esquecemos...

...e mais não digo!

Anónimo disse...

MUDAR é muito drástico e ... em certas alturas da vida ...já se mudou muito. EVOLUIR é mais manso e mais eficaz, talvez, não ? Pessoalmente, também não gosto que me ordenem MUDE ! Dá-me logo vontade de dizer, como a Teresa e como o poeta "Não ! Não vou por aí ...". Sou capaz até de ir, mas de vagar e quando quiser... Ai, ai ...(já vou levar, querem ver ?)
Fernanda

Anónimo disse...

É devagar, claro ... Estas "gralhas" traiçoeiras ...
Fernanda.

Anónimo disse...

desta vez está perdoada... até porque o seu comentário é muitíssimo equilibrado e acertado.fala a voz da experiência de que, às vezes, nos esquecemos...

em completa concordância, Fernanda!

Anónimo disse...

That's a great story. Waiting for more. » »

Edson Marques disse...

Agradeço por você ter publicado meu poema "Mude", ainda que tenha dito que era de Clarice Lispector...

Não é.

Já saiu o livro "Mude", com prefácio de Antonio Abujamra.

Veja também o vídeo.

Se vcoê não encontrar razões para ser livre, invente-as.

Abraços, flores, estrelas..


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