Tocas na pedra
e sentes na ponta dos dedos
um convite para entrar -
"Impossível!", estremeces,
"Wislawa Szymborska esteve uma eternidade
à porta de uma pedra
e não o conseguiu."
Mas tu estavas então no meio de um trigal,
e o levíssimo rumor da seara
abria para dentro de todos os seres
postigos de ternura por onde o vento e o amor
entravam livremente. Tocas na pedra,
e de súbito estás lá dentro:
percorres todos os seus corredores e salões
e entranhas de cristal,
e brincas como no rossio infinito da tua infância,
até que, exausto de cansaço, adormeces -
e dormes, dormes profundamente,
como só a pedra sabe fazer,
e ficas quieto, quieto para sempre
no respirar imperceptível deste poema. António Simões, inéditos, "Seis poemas com pedras dentro", in JL, 2000.
8 comentários:
Estupendo este poema de António Simões.
1 bj.
Sem fôlego!
Porque fico sempre assim com os poemas de António Simões?
A mestria com que ele brinca com as palavras é impressionante.
Mesmo que não se queira aceitar o convite do autor para aqui ficar, os seus poemas são irresistíveis.
Este não foge à regra. Lindo!
Tão terno e, simultaneamente, tão deliciosamente forte...
Depois do espanto...uma gargalhada de puro e delicado encanto.
"Um poema com flores dentro"...
E fico quieto e sem palavras depois de lido o poema.
tudo é tão pouco, como dizem, face ao poema...
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