Vivem em nós inúmeros;
se penso ou sinto, ignoro
quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
onde se sente ou pensa. Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo. Os impulsos cruzados
do que sinto ou não sinto
disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
a quem sei: eu escrevo. Ricardo Reis
4 comentários:
Existem, de facto, em cada um de nós, múltiplos eus, mas nenhum terá a força do primeiro.
Não apenas aquele que escreve, porque escreve, mas o outro, o que não escreve, mas sente, e ama, e sofre, e lê.
Para que serviria a escrita se não houvesse quem lesse?
Aonde está o primado?
Às vezes necessito de um outro eu para escrever o que em mim escondo. Mas não careço de apagar os muitos eus que procuram soltar-se quando escrevo, porque a escrita é a ascese.
No ovo, Teresa!
( desculpa, mas às vezes gosto de brincar e contigo sei que posso fazê-lo! )
100% de acordo, Manuel!
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