14/10/2005

Vivem em nós inúmeros

Vivem em nós inúmeros;
se penso ou sinto, ignoro
quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
do que sinto ou não sinto
disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
a quem sei: eu escrevo.
Ricardo Reis

4 comentários:

Anónimo disse...

Existem, de facto, em cada um de nós, múltiplos eus, mas nenhum terá a força do primeiro.
Não apenas aquele que escreve, porque escreve, mas o outro, o que não escreve, mas sente, e ama, e sofre, e lê.
Para que serviria a escrita se não houvesse quem lesse?
Aonde está o primado?

Anónimo disse...

Às vezes necessito de um outro eu para escrever o que em mim escondo. Mas não careço de apagar os muitos eus que procuram soltar-se quando escrevo, porque a escrita é a ascese.

Anónimo disse...

No ovo, Teresa!

( desculpa, mas às vezes gosto de brincar e contigo sei que posso fazê-lo! )

Anónimo disse...

100% de acordo, Manuel!