As palavras, como as lamentações, nascem e morrem entre a névoa da manhã e a luz dourada de um fim de tarde outonal. Mas é junto às muralhas da nossa própria cidade que ritualizamos as orações e os lamentos da memória. Por isso ninguém escuta as orações dos sentidos em redor do corpo e do tempo. Assim, que religião diviniza os segundos que sofremos em busca de uma outra cidade perdida entre anseios e devaneios? Secreta é a oração que alimenta o rosário de tais emoções! E quantas sensações comemoramos neste silêncio, quando as mãos se encostam às muralhas das recordações e adiam a conquista da cidade adormecida no regaço da noite! Como continuar a escalada barbacã, se os sentidos e as palavras e os sentidos das palavras são as únicas armas de que dispomos para o cerco da cidade?
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000.
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000.
Composições de Augusto Mota sobre poemas de Maria Toscano.
2 comentários:
lindo! GraTa!
não tem de quê ... já sabe que esta nau em si transporta ,sempre ,as melhores especiarias ( àparte algum contrabandito sonegado e na ausência do almirantado )
um beijo
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