23/08/2007

2. O Cálice dos Olhos

Estendes o olhar -
o cálice dos olhos! -
e nele recolhes,
gota a gota,
a derradeira luz do dia -
Uma asa tardia de andorinha,
retida nessa última gota,
vai ficar voando
no infinito de teus olhos.
Com ela,
tonta ainda,
( tontos os dois! )
do vinho avermelhado do poente
que te enche o cálice
até à borda,
atravessas o sono e o sonho,
e, num ruflar macio de asas,
irás, por fim, pousar
junto ao pequeno charco de luz
onde nasce o dia.

Exausta
da travessia-embriaguez da noite,
a andorinha tua alma
ainda dorme
no aconchego das pálpebras,
no silêncio desta página -

Viremo-la, pois,
sem rumor,
e passemos,
pé-ante-pé
ao próximo
poema



António Simões, inédito.
Composições de Augusto Mota sobre poemas de António Simões.

1 comentário:

Mateso disse...

"Minha mãe amassa o manto... e o pão..
Mãos doces e fortes que amparam o mundo, eis as aves que embalam o mundo.
Bj.