21/02/2013

De NADA

Um ponto de vista




  
 Alberto Pimenta é uma das maiores forças em vigor na poesia portuguesa. E a fazer, felizmente, estragos. A prová-lo, a acção de mais de 40 anos de livros publicados. Em poucos casos a palavra "acção" será tão bem empregue.
De Nada seria uma edição de formato inovador, não se tratasse de Alberto Pimenta, fabuloso reiventor de si próprio como agente da (à falta de melhor palavra) cultura. 
O registo áudio a acompanhar o livro - em que um soberbo Pimenta diz os seus poemas - materializa um aspecto que vem marcando a sua produção: o poema é caminho de ida e volta para a palavra dita. E está disseminada por toda a sua obra essa atenção à rede de relações entre léxico e sonoridade, ritmo e verso. De Nada não é excepção - "todas as noites há um ruído / fino / cada vez mais perto / parece já no quarto / do lado" (p. 39).
Neste seu mais recente livro - como em toda a sua intervenção -, ele é o oposto do poeta na sua torre. Não há torre, não há pose,  não há poeta - "tudo isto claro / não se aplica a poetas / até certo ponto meus semelhantes" (p. 62).
Há, em compensação, muito mais do que isso: Alberto Pimenta, alguém que propõe para a poesia novo fôlego, outra amplitude - "a sua função / era ampliar o mundo / não / reduzi-lo ao tamanho de cromos" (p.74).
Eis, então, uma poesia que não se alheia do mundo, cuja valia e propriedade nos dizem mais sobre o que é estar aqui hoje do que mil tratados poderiam - "para os desempregados / o único grupo desta sociedade / que está em alta / uma boa notícia mais" (p.59).
 
Hugo Pinto Santos, in «Time Out Lisboa», 6-12 Fevereiro 2013.
 

 
 
Editora BOCA - palavras que alimentam, Lda. / Novembro  2012 / 112  págs. / 2 CD / € 16.
 

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