15/02/2013

SONETOS DA TASMÂNIA

Eis três recentíssimos trabalhos que o poeta A. Inocêncio Príncipe nos enviou da Tasmânia (onde se exilou já lá vão uns anos!), e que, talvez motivado pela agressividade do diabo-da-tasmânia, lhe dá agora para, de vez em quando e para nosso deleite, produzir uma acutilante poesia aliterante: 
 
 
 
 
Diabo-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii)
 
 
a mesquinha matilha de melífluos mastins
 
um grupo de gente gananciosa e gasta,
flébil e frouxa como um feixe de feno,
básica e brutal a quem bater não basta,
que nos varre da vida com seu venal veneno. 
 
um clã de cruenta e cavilosa casta,
perniciosa e pelintra de pequeno porte,
que tudo arrepanha, arrepela e arrasta,
soturna como a sombra da mais sinistra sorte;
 
os gestos generaliza enquanto gesticula,
come caviar e nós lambemos lula,
dorme em doces dosséis e nós na lama;
 
mesquinha matilha de melífluos mastins,
finar-se-á refém de seus funestos fins -
nesta amorosa pátria ninguém os ama.
 
 
A. Inocêncio Príncipe
 
 
 
 
Canguru-da-tasmânia (Macropus giganteus tasmaniensis)
 
 
pedro passos poejo
 
 a pedro passos coelho, eu preferia
um pedro passos mais aliterante;
um pedro passos poejo, oh! que alegria,
com alguém assim, tudo iria avante;
 
e a pátria, bem-temperada ficaria
no decurso exacto de cada instante -
poejo é planta de sabor-sabedoria,
grácil, perfumada, estruturante:
 
quem açorda de poejo bem conhece,
sabe que não há sabor assim como esse,
nem perfume igual a esse há;
 
para acbar com a crise eu só desejo:
presida ao poder pedro passos poejo,
e o outro pedrinho se demita já!
 
 
A. Inocêncio Príncipe
 
 
 
 


 Echidna / Ouriço-da-tasmânia (Tachyglossus aculeatus
 
 
 
 d.d.d. 
 
oh desleixada, desigual democracia,
que soez sacrificas quem te sustenta:
a uns dás menos d'oito, a outros mais d'oitenta,
e farsante falas funérea e fria;
 
aquele que cria a couve é quem te cria,
faz a fábrica e faz a ferramenta;
pisas o pobre povo e o povo não aguenta
quem de sua vida varreu a alegria;
 
iletrada e ignorante, esqueces nossa história,
às vozes de bom senso, preferes a escória
de gente carreirista, sem ética ou ideal;
 
procacíssimo* pesadelo permanente,
bruta e brutal, insegura, insolente,
pára de piratear o pobre Portugal.
 
 
A. Inocêncio Príncipe
 
* superl. abs. de procaz=petulante, descarado
 

2 comentários:

António Simões ,Augusto Mota e Gabriela Rocha Martins disse...

excelso Poeta!

bem vindo sejais a estes reinos e que vossa verve nos fortalessa já que nossos desvelos se vão cada vez mais assolados pela horde de piratas que nos governa
obrigada ,senhor ,pela vossa acutilância e que de vossos senhorios além tejo ,nos possais trazer vossa poesia e preito

grata .a serva da gleba,

gabriela rocha martins

António Simões ,Augusto Mota e Gabriela Rocha Martins disse...

deixo ,também ,a minha gratidão ao excelso gravador da Corte ,Augusto Mota de seu nome ,pelas iluminuras que por bem soube escolher para emoldurar tão doutas palavras

um beijo aos Mestres
a serva,

gabriela rocha martins