Que tudo o que é muito belo tenha descendência
1
From fairest creatures we desire increase,
That thereby beauty’s rose might
never die,
But as the riper should by time decease,
His tender heir might bear his memory;
But thou, contracted to thine own bright eyes,
Feed’st thy light’s flame with self-substantial fuel,
Making a famine where abundance lies,
Thyself thy foe, to thy sweet self too cruel.
Thou that are now the world’s fresh ornament
And only herald to the gaudy spring
Within thy own bud buriest thy content,
And, tender churl, makes waste in niggarding.
Pity
the world, or else this glutton be,
To eat
the world’s due, by the grave and thee.
1
Que tudo o que é muito belo tenha descendência,
Para que nunca morra a rosa da beleza,
Pois se pra quem for velho cessa a existência,
Seu herdeiro, sua memória mantém acesa.
Mas tu, que a ti mesmo te reduziste,
Irás arder na tua própria combustão,
Onde abunda a beleza, uma carência viste,
A ti mesmo te maltratas
sem razão.
Tu, que és do mundo,
juvenil ornamento,
Arauto que anuncia a primaveril beleza,
Enterras em ti os dons que trazes dentro,
Generoso avaro,
pródigo em tua avareza.
Tem piedade do
mundo, porque senão,
Devoras o que
a campa e tu lhe devem, glutão.
Tradução de António Simões
Quando quarenta invernos cercarem tua fronte
2
Thy youth’s proud livery, so gazed on now,
Will be a tattered weed of small worth held.
Then being asked where all thy beauty lies,
Where all the treasure of thy lusty days,
To say within thy own deep-sunken eyes
Were an all-eating shame and thriftless praise.
How much more praise deserved thy beauty’s use
If thou couldst answer “This fair child of mine
Shall sum my count and make my old excuse,”
Proving his beauty by succession thine.
This were to be new made when thou art old,
And see thy blood warm when thou fee’s it cold.
William Shakespeare
O admirado trajo juvenil ora flamejante,
Será então farrapos d’aspecto miserando.
Ao perguntarem onde tua beleza jaz,
Onde todos esses fogosos dias ‘stão,
No vazio profundo dos olhos verás,
Vergonha sem decoro, lisonja sem razão.
Servindo a beleza, merecias maior louvor,
Se pudesses responder: “Este belo filho meu,
Saldará as contas que a vida me deu,”
Sua b’leza prova que é o teu sucessor.
E quem já é velho, novo se sentiu,
Pois corre quente o sangue que outrora era frio.
Tradução de António Simões
When forty winters shall besiege thy brow
And dig deep trenches in thy beauty’s field,Thy youth’s proud livery, so gazed on now,
Will be a tattered weed of small worth held.
Then being asked where all thy beauty lies,
Where all the treasure of thy lusty days,
To say within thy own deep-sunken eyes
Were an all-eating shame and thriftless praise.
How much more praise deserved thy beauty’s use
If thou couldst answer “This fair child of mine
Shall sum my count and make my old excuse,”
Proving his beauty by succession thine.
This were to be new made when thou art old,
And see thy blood warm when thou fee’s it cold.
2
Quando quarenta invernos cercarem tua fronte,
Fundas trincheiras nesse campo cavando,O admirado trajo juvenil ora flamejante,
Será então farrapos d’aspecto miserando.
Ao perguntarem onde tua beleza jaz,
Onde todos esses fogosos dias ‘stão,
No vazio profundo dos olhos verás,
Vergonha sem decoro, lisonja sem razão.
Servindo a beleza, merecias maior louvor,
Se pudesses responder: “Este belo filho meu,
Saldará as contas que a vida me deu,”
Sua b’leza prova que é o teu sucessor.
E quem já é velho, novo se sentiu,
Pois corre quente o sangue que outrora era frio.
Tradução de António Simões
Obs.: Apresentamos a versão provisória da tradução dos dois primeiros sonetos de William Shakespeare, ainda sujeita a revisão, encontrado-se, porém, já concluída a tradução da totalidade dos seus 154 sonetos, os quais serão, posteriormente, acompanhados
de notas esclarecedoras para uma melhor compreensão e fruição da obra do poeta.
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