31/12/2013

Haicais e que tais





Capa


Do postfácio de Fábio Lucas - Carlos Seabra além dos Haicais - transcrevemos:


 " Os géneros literários constituem marcos retóricos ou poéticos, legitimados pelas convenções. Cumpre aos poetas segui-los e, depois, ultrapassá-los.
É o que se verifica com os Haicais de Carlos Seabra. Encontram-se mais próximos da forma do que do espírito. É que a alteridade da composição, transplantada ao solo brasileiro, incorpora os sinais da tradição poética local. Tudo em versos mínimos, de rapidez eletrônica.
Carlos Seabra visita vários núcleos temáticos, com um gestual de cirurgião plástico. Ventila os pequenos poemas ora com o sopro romântico, ora com a graça da ironia, que não chega, todavia, à mordacidade.
Gradua o tempo segundo a herança heraclítica: caminho para a morte, pontilhado de clarões epifânicos. Relâmpagos de eternidade.
Intromete-se, em uma ou outra composição, o homem político, indignado, acossado pelas injustiças que a civilização vem acumulando. (...)" 


O autor agrupa neste livro várias categorias de Haicais: os que se referem à natureza, os humorísticos ou satíricos, os românticos e os eróticos. Transcrevemos, de cada categoria, os que, de imediato, mais nos sensibilizaram:


trigo dourado
pelas mãos do vento
é penteado


que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?
 
chão de caruma,
crepitar de pinheiral -
passos ou fogo?
         * 
fera ferida
nunca desiste -
luta pela vida

casa quieta -
cochila o avô e
dorme a neta

rochedo no mar
barco afundado
olhos a chorar
         *
gente sem terra,
corrupção, dsemprego:
mundo em guerra

dia de eleição
primeiro o seu voto
depois a traição

deu no jornal:
economia vai bem
o povo vai mal
         *
ao te adorar 
não sei mais se tens 
corpo ou altar...

que delícia -
um decote aberto 
com malícia 

olhos felinos
e um corpo de mulher -
cuidado meninos!




Contracapa 


É permitida a reprodução dos textos contidos neste livro, desde que citados autor e fonte. Capa e contracapa Eugénia Tabosa, Massao Ohno Editor, S. Paulo, 20o5. Dimensões: 15  x  15 cm, 60 pp.

Carlos Seabra nasceu em Lisboa em 1955, mas vive no Brasil, em S. Paulo, desde 1969.

* escrito e editado por augusto mota

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