Falaste-me um dia da família,
Do nascer,
De como a árvore vive com suas folhas,
Da passagem do vento pela casa ( as portas estão sempre abertas ),
Trazendo e levando novas, vibrações, súbitas ternuras;
Falaste-me da folha caída, ninguém sabe como,
Sobre a peneira alva de farinha,
Um canto verde, imóvel,
Uma voz de seiva amanhecida que escorreu de teus lábios entreabertos;
Falaste-me da grama de ansiedade,
Do peso tão leve e tão insuportável
Sobre a pele retesada, quase a rebentar, de tua alma;
Falaste-me do violino que tocava incessante dentro de ti
E do céu que acolhia, ávido, a harmonia de suas vibrações;
Falaste-me de tudo isso numa manhã povoada do canto dos pássaros,
Uma manhã nos campos de Louredo,
Farta e densa de cores e sons,
Mas esqueceste que eu só entendo e aceito uma palavra,
E essa não disseste
E era amor. António Simões, inédito.
6 comentários:
Mais um belíssimo poema de António Simões.
1 bj.
Tudo, simultaneamente, tão bonito e tão poderoso.
A palavra certa no verso.
O verso contido no poema.
Soberbo.
Não disse mas digo agora:
amo este poema.
O amor não se diz, POETA, sente-se!
palavras para quê?
tudo é dito e redito com muito amor...
como o poema.
desculpe, José Artur, mas o amor diz-se quando se sente. porque não?
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