( a meu filho )
A cidade adormeceu na encosta da consciênciados homens de duplo olhar - angélico satânico.
Irreconhecível, corre o rio à margem de azuis;
as tuas lágrimas perfumam lírios!... Como gritos sinto coisas aflorarem à memória:
- o copo, a chávena, o gosto infantil do leite bebido pelo pires...
o branco dos lençóis que se estendia até o sol corar o horizonte.
Nos canteiros, as videiras viviam em acidez adunca,
as lavadeiras elevavam cânticos à sombra dos mamoeiros. Era o tempo em que persistiam buganvílias a janelas fechadas,
e os patos faziam voos rasantes ao superficial suicídio das acácias,
num parecer de sangue manchado a céu aberto.
Seria um prenúncio ou a conjugação de cores que impressionava?
Sei que hoje, meu filho,
as árvores baleadas são acariciadas pelo tempo
que ostenta cicatrizes sem vitórias. maria gomes, inédito, 2005
12 comentários:
Lindíssimo este poema com sabor a África e a Terra-Mãe.
Eis a paz subjacente em verso que esconde a guerra.
Mas onde adormece a consciência?
Eis uma POETA com maiúsculas.
Só nós MULHERES entendemos, em plenitude, o sortilégio da MATERNIDADE.
uma pergunta assaz pertinente.
mas que sabemos nós de guerra? o que vimos e ouvimos? ou o que sentimos por interpostas pessoas?
infelizmente, as memórias são curtas, Anamar...
concordo contigo, Manuel!
antes um hino à MATERNIDADE, Teresa. como mães e como avós...em duplicado!
Muito belo este texto eivado do sentimento da Maternidade telúrica !
Muito forte e muito terno, Maria Gomes.
Fernanda.
também o achei lindíssimo, Fernanda.
e não fomos apenas nós...
o meu sinceramento agradecimento a todos,
um beijo
maria
não agradeça, Maria, o que merece em triplicado...
... e o "Palácio das Varandas" limita-se a fazer jus à POESIA!
ops... só agora verifiquei a gralha!!!
sincero agradecimento...
beijo
maria
aqui onde tem lugar cativo...
...sempre!
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