28/12/2006

cacto.mania 2


1. maria toscano
e os picos foram sendo retirados

2. m. gomes da torre

pelos novos poetas




3. orlando cardoso

convidados ...

fotografia de Augusto Mota

26/12/2006

o contraponto da tristeza


É triste a tristeza que ameaça as mãos e invade o corpo todo como se a cidade estivesse sitiada, ou fosse o frio seco de uma manhã de Inverno que arrefecesse a alma e fizesse tremer o mais íntimo de nós.
Parecendo habitar os países do norte, o Sol já não abrilhanta as melhores horas do dia e a magia da noite ilude-se com palavras que não conseguem disfarçar o desassossego de algumas emoções. É no corpo que mais se sente o peso da angústia que passou a habitar as horas do trabalho e do sono. Assim, dormir, é antecipar os sonhos maus que gostaríamos de relegar para outras paragens, já que o dia e a noite são uma repetição da mesma tristeza e as mãos já não conseguem ser o que eram, quando certas estrelas desabrochavam em suas palmas e a boca percorria o nome das ruas no roteiro da cidade e da saudade.
A saudade é a traição do tempo que habita o espaço do nosso querer. Por isso adiamos sempre as horas que não coincidem nesse espaço das mãos e dos olhos que sofrem, deste modo, o vazio de tudo e já nem conseguem viver dos prazeres que a memória guarda para nós, com secretas intenções.
Melhores dias e novos desígnios serão, amanhã, o contraponto ajustado a este despovoado existir.
Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.

19/12/2006

cacto.mania .1

o jardineiro-filósofo ,Augusto Mota ,lançou ,
a alguns poetas da nossa praça ,um curioso
desafio
...

enviou.lhes esta imagem cactónica
...


e pediu.lhes um poema.
eis como
o António Simões ,a Fernanda Sal Monteiro e o Carlos Alberto Silva
se "picaram"
...

12/12/2006

há 185 anos, no dia 12 de Dezembro, nasceu ...




... Gustave Flaubert

( Rouen 1821 - Croisset, próximo de Rouen, 1880 )

Escritor francês. A vida de Gustave Flaubert é a de um artista completamente dedicado a aperfeiçoar a sua arte. Filho de um cirurgião, sendo criança, em 1836, conhece Elise Foucault, objecto da grande e incompleta paixão da sua vida que lhe inspira "A Educação Sentimental". Em 1840 transfere-se para Paris para estudar Direito, mas descuida os estudos para viver no mundo das Letras. Pouco depois, por causa de uma grave doença nervosa, regressa a Rouen. Quando da morta do pai, instala-se com a mãe e a sobrinha na casa de campo de Croisset. Nela vive o resto da sua vida, exceptuando as viagens e as temporadas em Paris. em 1846 conhece a escritora Louise Colet, com quem manteve uma abundante correspondência até 1855. Em 1849-51, viaja pela Grécia, Itália e Médio Oriente. Em 1857 o seu romance "Madame Bovary" leva-o aos tribunais, acusado de ofensa à moral e à religião. Em 1875, para salvar da falência o marido da sobrinha, vende todas as suas propriedades e tem de aceitar uma modesta pensão do Estado.

Flaubert leva à perfeição o romance realista e consegue a mais completa harmonia entre a arte e a realidade. Para ele, a verdade e a beleza estão unidas; por isso põe tanto cuidado na sintaxe e na escolha do vocabulário e concede tanta importância à estrutura. Na sua obra literária, não muito extensa, Flaubert aspira à criação de um conjunto harmónico, à elaboração de toda uma trama simbólica que une os diferentes personagens. A sensibilidade de Flaubert chega a cair no sentimentalismo e, nesses momentos, entrega-se ao deísmo e a vagos sentimentos rousseaunianos envoltos em oratória; mas quando se recupera destes desvios, a obra de Flaubert, trabalhada com uma ânsia de perfeição e um esforço quase dolorosos, é uma maravilha de harmonia e realidade.

Os romances e contos de Flaubert oferecem um panorama de realismo em diversos campos. "Madame Bovary" e "Bouvard et Pécuchet" movem-se no campo do realismo burguês. "Salammbô" no do realismo histórico. Os "Três Contos" caracterizam-se pelo seu realismo imaginativo e romântico e "A Educação Sentimental" mostra um amplo realismo vital.

Algumas citações suas:
Não desculpo de modo algum aos homens de acção que não vençam, uma vez que o êxito é a única medida do seu mérito
A moral da arte reside na sua própria beleza
A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo
Ele andava à roda no seu desejo como o preso no cárcere
O estilo está sob as palavras como dentro delas. É igualmente a alma e a carne de uma obra
in citador - http://www.citador.pt
Imperativo - ler ou reler "Madame Bovary".

08/12/2006

Amor Virtual


Se as mãos de alguém viessem, virtuais,
suavizar-me a dor, afagar-me a testa! -
Ligo o computador, busco os sinais,
gigaherz da ternura que resta.
Carrego numa tecla e tu sais
ao meu encontro com ar de festa:
e nas mãos, de súbito naturais,
o afago mais doce se manifesta.
Peço ao computador que derrame
dentro de mim mais memória ram,
pra reter-te para sempre num ficheiro.
1000 gigabites, meu coração,
onde cabem os que a mim se dão,
como tu a mim te deste por inteiro.




António Simões, inédito.
Legendas íntimas - fotografias de Pedro Carvalho;

textos e composição de Augusto Mota.

06/12/2006


Agapanto branco e centro de Dália
fotografias de Augusto Mota.

05/12/2006

No Jardim dos Livros

Os livros são objectos aromáticos guardados nas estantes
da memória, sementes de orvalho, estrelas onde assoma o infinito.
Nos seus jardins de goma-arábica, como céu nas margens,
verde, cor de marfim é a sua volúpia acesa,
a sua centelha branca, a sua seiva cor de sangue.
Luxurioso é seu corpo, o seu júbilo, a sua forma, o seu perfume,
onde a sede e a veemência se prolongam.
Na exactidão do seu lume, irradiam a luz, a cor,
a sua chama sempre viva.
Entre estrelas, dinamite, é lá que o coração dos seres respira
e o silêncio pulsa,
envolto na sedução da luz e dos oásis.
Com lábios de areia e musgo, é lá que bebo o mar, a luz,
a terra a apodrecer
- o corpo flutuando entre estrelas, madrepérola.
É lá que afluem objectos preciosos, roseiras, grutas, pirilampos.
Nas suas árvores de raízes negras, irreais,
assomam as fábulas, poemas, em taças volumosas,
transparentes.
Nas suas vogais, há cais secretos, nascentes ébrias,
fósforo incandescente.
Nelas se inscreve a língua arguta das pedras eloquentes.
No seu mar de peixes exóticos, espalham-se,
as lombadas da vida, as aguadas da morte.
E nada impede o coração, cotovia inadiada.
No seu murmúrio, derrama-se a vertigem em flor.
Maria do Sameiro Barroso, in "Afectos", Labirinto, Fafe, 2006.

30/11/2006

13. Amigos, cantai



Quando eu for livre,
do corpo liberto,
dirão: "onde vive
ele agora ao certo?"
Vivo no anil,
do ar me alimento -
meu corpo subtil
mais leve que o vento.
Vivo onde a asa
não se aventura:
a alma tão alta
deceu à fundura.
E agora voa
no céu de si mesma,
e atravessa a sombra
para a luz que a cega.
Essa luz cegante
vai-me por à prova:
pra seguir adiante
só com vista nova




"Quando eu me for...",
não é bem assim:
morte é o amor
que volta para mim.

Deste corpo farto,
vou nascer de novo -
dá-se novo parto,
tenho outro corpo,
que é feito da luz
que na carne ardia,
e a carne reduz
à cinza mais fria.
Mas enquanto habito
o corpo de agora,
o prazer infinito
da dor me devora -
Nela canto e ardo,
dela me alimento,
e sei que não tardo:
chegará o tempo
de voltar ao Pai -
viva-se entretanto!
Amigos, cantai
dentro do meu canto.

António Simões ,inédito , in "Poemas Antigos".
Fotopoema 76- poema de António Simões. Fotografia e composição de Augusto Mota.
Fotopoema 78 - poema de Fernanda sal Monteiro. Fotografia e composição de Augusto Mota.

26/11/2006

até sempre ,Mário!



Mário Cesariny , o poeta / pintor ,do surrealismo português ,faleceu ,esta manhã ,em Lisboa




até sempre ,Mário!



Todos por Um

A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos com certeza

Santos
Mártires
e Heróis

Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.

Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha de cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa não terem de recorrer à vala comum.

Mário Cesariny , in ,"Homenagem a Mário Cesariny" ,triplov, 2005.



25/11/2006


Fotopoema 75. Augusto Mota

o sortilégio dos frutos

Suculentos frutos frescos abrem-se à boca como romãs ao sol poente e o sumo carmim de suas veias derrama-se como música em nossas mãos. O bardo entoa o sortilégio de um céu longínquo de azul e fantasia. Muito para além das janelas desses frutos revejo os tempos em que juntos bebemos suas sementes, quando a maresia e o vento leste nos pinhais parecia prolongar a doçura de cada gesto e tais frutos abertos à natureza diziam de nós e de todas as colheitas que sagravam os bosques do nosso contentamento.
Em seu constante revolver o mar acolhe este balançar entre a memória e o vento, enquanto o bardo insiste nos tons outonais do poente que separa a vida e a gente.
Lestos são os frutos em seu despontar de prazer. Serão novo andamento em secreto concerto, melodia vaga e triste que ensombra os dedos e chora por nós um adeus que festeja o álacre Outono em sua primaveril renovação.
As estações do corpo também cumprirão seus ritos!
Augusto Mota ,inédito ,in "A Geografia do Prazer", 2000.

23/11/2006

...


...
M. Gomes da Torre ,atrasado ,fechou o ciclo

Luz Sobre o Aberto*

Homenagem a António Ramos Rosa


Não há árvore, fruto ou abismo que o teu coração não conheça,
mas improvável é sempre a chama da tua respiração,
na luz sobre o aberto,
onde o caminho para o infinito é o ardor que toda a palavra sustém.
Em ti brilham as sílabas, as imagens, as entranhas das páginas.
Nenhum grito te rasga porque és a própria luz sobre o abismo
inominado das origens.
Nenhum grito te abre, nenhum gume te fere, porque és
a própria abertura.
Nas tuas árvores, na tua pele, brilham as dunas, o deserto,
as entranhas do mundo.
Nas tuas veias, brilham oásis sempre férteis.
Nenhum grito te raga, porque és o grito intraduzível
de uma respiração poderosa.
No teu sangue, derramam-se cascatas brancas, cascatas fulvas,
onde corre um rio exaltado de preciosas salinas.
Os teus ouvidos são membranas vibráteis,
abertas sobre as constelações da noite.
Em ti, todas as chamas são lagoas de linfa ,sulcos, estrias,
meandros do indizível.
Os teus próprios muros são silêncios, fruto, jóia,
apontamento íntimo.
As tuas clareiras são rasgadas por sulcos.
De bálsamo e frescura é o teu rosto.
Quando falas das feridas, escuto as guitarras, as árvores,
os insectos, as paredes brancas, as aves mais puras.
Nenhum grito te rasga, porque és a própria nudez despojada.
No turbilhão dos labirintos, voltas-te sempre para o sítio,
onde as janelas se abrem e se incendeiam,
nos fluxos de lava, onde os aprendizes se acolhem.
Quando indagas o mundo e os seus enigmas, indagas o silêncio,
a bruma, nos arcos transparentes habitados pelo Ser.
És sempre a espiral de uma vertigem que se encontra,
em seu clamor de veludo, em suas águas de silêncio,
onde desejo e alvor se fundem, na madrugada do teu corpo,
onde o universo é uma metonímia de figuras azuis.
*Maria do Sameiro Barroso, in "Homenagem a António Ramos Rosa", Revista Textos e Pretextos, nº 9 Outono/Inverno, 2006, Centro de Estudos Comparatistas, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa.

20/11/2006

desafio a seis mãos


Carlos Alberto Silva escreve


António Simões não lhe fica atrás


Gabriela Rocha Martins segue o desafio



e a Fernanda Sal Monteiro finaliza.o

( asseguro.vos que tentei introduzir os fotopoemas pela sua ordem natural ,só que o blogger publicou.os como muito bem entendeu .desculpem a arbitrariedade do post ... nem sempre os autores decidem ... )

e, ... sabem quem foi o autor do desafio e da fotografia?

claro ,só podia! Augusto Mota ,o jardineiro/filósofo.

19/11/2006

antigas cumplicidades

Vou partir na asa de uma palavra,
de uma qualquer,
não escrita ainda,
que venha voando por minha alma fora,
à procura deste poema


Antes que sobre ele inicie sua descida,
a ela, que vem ainda cheia de energia da viagem,
vou desviá-la, para que me leve
para o outro lado da folha -
e, levando-me em seus braços,
desça, sem rumor,
sobre a nudez da nova página,
e me deixe ficar para sempre
no poema que nunca escreverei

António Simões escreveu
Augusto Mota fotografou e compôs

16/11/2006

A taça das tuas mãos

Traz-me numa taça
a água fresca do dia,
quando o vento se liquefaz
sob o meu olhar atento
e o meu corpo é menos carne do que vento,
porque minha alma lá dentro não cabia,
excessiva, enorme -
Vá, toca-me ao de leve com tuas mãos,
para que a tarde sobre mim se entorne.
António Simões, inédito, in "Poemas Antigos".

11/11/2006

bom fim de semana

acho que sábado é
a rosa da semana
-Clarice Lispector.

08/11/2006

Mário Viegas diz Caeiro / Pessoa




Da mais alta janela da minha casa
com um lenço branco digo adeus
aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
porque não posso fazer o contrário
como a flor não pode esconder a cor,
nem o rio esconder que corre,
nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
e eu sem querer sinto pena
como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide, de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.





leia e oiça aqui
ou aqui!

07/11/2006

goodbye


J.Blunt : Goodbye my lover

( clicar sobre a imagem para reproduzir )

06/11/2006

a 6 de Novembro ...

de 1919 ,nasceu no Porto

Sophia de Mello Breyner Andersen



em 2005

Augusto Mota compôs

Gabriela Rocha Martins escreveu

o teu passado -distância

o meu presente -futuro

o jardim

o sol

o muro

o mar

hoje regressas

Olympia

ao teu lugar

( homenagem a Sophia de Mello Breyner Andersen ,Julho de 2004 )

01/11/2006


Fotopoema. Augusto Mota

A Mão Semeada

É quase o corpo, movido pelos arados, cercado de agulhas
moribundas.
E a vida canta, inóspita, à beira de outras nuvens.
Pelas aras de cinza, nada me resta senão o voo invisível,
pelas margens da agonia,
e a noite incessante que me traz a terra, a espessura do sangue,
os caminhos frescos.
Agora sou o limite que emerge, o pulso, o grito,
o som que principia.
E chego, porque há novas harpas que se enredam nos dias.
Alguém me fala.
Sobre negros precipícios, há espelhos negros
e a vida mal definida que preenche as casas.
Algures os limoeiros florescem e reanimam a face lívida,
olvidada pela música.
Pelos tinteiros de luz, pinto estrelas de sombra.
As cinzas dormem e há novas raízes que se libertam,
pela mão semeada, adormecida.
É, pelo corpo, cercado de espelhos, que vivo e atravesso
o olhar, a assonância crescente, a semente do diálogo.
Alguém escutará o novo fulgor, o embate cego
contra os muros, a complexa ogiva.
Como uma lâmpada, caminhará a palavra,
pedra cintilante, nome e destino, vagido enigmático,
luzeiro obscuro, esporo de veludo,
coroado pelo vento.
Maria do Sameiro Barroso, in "Palavras de vento e de pedra", org. Pedro Salvado, Município do Fundão, 2006.

28/10/2006

Legenda Íntima 138. Augusto Mota

26/10/2006

o rosto dos gestos

Secreta é a voz que nos fala distante, perdida nas ruas de si própria. Secreto é o olhar que guia os nossos passos pelos atalhos da tarde. Secreto é o perfume que anima o rosto dos gestos, agora, também eles, perdidos nas ruas de si próprios.
Divagando pelas ruas, arrastamos as palavras de encontro aos muros brancos da cidade antiga e neles registamos os sentidos particulares que se escondem por detrás de cada letra de cada palavra. Assim expostos, alguém há-de ajudá-los a encontrar o caminho certo de volta às palavras onde sempre habitaram, antes de a aventura dos dias lhes ter destinado outras paragens.
Em cada gesto mora uma palavra. Em cada palavra mora um gesto. Tudo começa e acaba no gesto do olhar, no rosto dos gestos.
Secreta é a esperança que, como um rio, reflecte o corpo e o rosto. Só as mãos ficam de fora para, do cimo do monte, acenar um adeus ao sol poente que se esconde, ao longe, apressadamente, entre os pinhais da beira-mar, levando consigo, para o outro lado do mundo, um novo sentido para a palavra saudade.
Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.

23/10/2006

a borbonauta

Poema de António Simões
Fotografia de Augusto Mota

22/10/2006

No dia do aniversário de Georges Brassens

Je veux dédier ce poème
a toutes les femmes qu'on aime
pendant quelques instants secrets
a celles qu'on connaît à peine
qu'on destin différent entraîne
et qu'on ne retrouve jamais
A celle qu'on voit apparaître
une seconde à sa fenêtre
et qui, preste, s'évanouit
mais dont la svelte silhouette
est si gracieuse et fluette
qu'on en demeure épanoui
A la compagne de voyage
dont les yeux, charmant paysage
font paraître court le chemin
qu'on est seul, peut-être, à comprendre
et qu'on laisse pourtant descendre
sans avoir effleuré sa main
A celles qui sont déjà prises
et qui, vivant des heures grises
près d'un être trop différent
vous ont, inutile folie,
laissé voir la mélancolie
d'un avenir désespérant
Chères images aperçues
espérances d'un jour déçues
vous serez dans l'oubli demain
pour peu que le bonheur survienne
il est rare qu'on se souvienne
des épisodes du chemin
Mais si l'on a manqué sa vie
on songe avec un peu d'envie
a tous ces bonheurs entrevus
aux baisers qu'on n'osa pas prendre
aux coeurs qui doivent vous attendre
aux yeux qu'on na jamais revus
Alors, aux soirs de lassitude
tout en peuplant sa solitude
des fantômes du souvenir
on pleure les lèvres absentes
de toutes ces belles passantes
que l'on n'a pas su retenir
"Les Passantes", poème de Antoine Pol
Chanté par Georges Brassens
Enviado por Amélia Pais, http://www.barcosflores.blogsot.com


19/10/2006

Legenda Íntima 123. Augusto Mota

18/10/2006

A Dignidade das Mulheres

Honrai as mulheres! Elas entrançam e tecem
rosas divinas na vida terrena,
entrançam do amor o venturoso laço
e, atravás do véu casto das Graças,
vigilantes, alimentam o fogo eterno
de sentimentos mais belos, com mão sagrada.
(...)
Na mais modesta cabana materna
foram deixadas, com modos envergonhados,
as filhas fiéis da natureza piedosa.
(...)
Mas, com modos mais brandos e persuasivos,
as mulheres conduzem o ceptro dos costumes,
acalmam a discórdia que, raivosa, se inflama,
às forças hostis que se odeiam
ensinam a maneira de ser harmoniosa,
e reúnem o que no eterno se derrama.
Friedrich Schiller
Trad. de Maria do Sameiro Barroso

17/10/2006

homenagem a António Ramos Rosa


Fotopoema. Augusto Mota.

António Ramos Rosa...

( desenho a borrona de António Ramos Rosa )
...nasceu em Faro, no dia 10 de Outubro de 1924. É considerado o Poeta do presente absoluto, da "liberdade livre" , e, Urbano Tavares Rodrigues define-o como o empolgante poeta das coisas primordiais, da luz, da pedra e da água.
"A palavra é uma estátua submersa, um leopardo
que estreme em escuros bosques, uma anémona
sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada. Rápida é a boca
que aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das vogais."
Homenagem a António Ramos Rosa, in "Silves Capital da Palavra Ardente". II Bienal de Poesia, Abril 2005.

15/10/2006

asas de vitral

Trabalho de Augusto Mota
sobre um poema de António Simões

12/10/2006

zig-zag zag-zig


O escritor turco Orhan Pamuk recebeu o Prémio Nobel da Literatura 2006




El escritor turco Orhan Pamuk ha sido galardonado esta mañana con el Premio Nobel de Literatura 2006, según ha anunciado desde Estocolmo la Academia Sueca de la Lengua. Considerado como un vínculo intelectual entre Oriente y Occidente, este novelista fue procesado en su país por mencionar en una entrevista la matanza de armenios y kurdos llevada a cabo por los turcos en 1915. La Academia ha destacado del autor: "La búsqueda del alma melancólica de su ciudad natal ha descubierto nuevos símbolos para el choque y el entrelazamiento entre las culturas".



A Academia Sueca da Língua, sediada em Estocolmo, destacou o escritor turco Orhan Pamuk com o Prémio Nobel da Literatura 2006.
Considerado como um vínculo intelectual entre o Oriente e o Ocidente, este novelista foi processado, na Turquia, por mencionar, numa entrevista, a matança de arménios e kurdos levada a cabo pelos turcos em 1915. Ao galardoá-lo, a Academia menciona do autor “a busca da alma melancólica do seu país põe a descoberto novos significados para o encontro e o aperfeiçoamento entre as culturas”.


Magda Díaz Morales ,in “Apostillas litterarias”
Trad. nossa

10/10/2006

Legenda Íntima 124. Augusto Mota.

receita

Quando, manhã cedo, o sol de Outono realça as formas e aviva as cores dos frutos que pendem, vaidosos, da copa nua de um diospireiro ( Diospyros kaki ) os olhos enchem-se de sabores apetecidos. Mas é às mãos que damos a honra de provar os tons vários de todos os prazeres que, ciosos, se escondem para além da polpa ávida e sumarenta de cada dióspiro.
Que universo de sensações habitam tal fruto quando colhido, com delicadeza, no próprio corpo da árvore!
Quando os ramos já perderam todas as suas folhas escolhe-se um, bem maduro, quase sorvado, sopesa-se, deixando que a sua casca fina e lisa adira completamente à nossa mão e aos dedos, de modo a sentirmos o pulsar de sua polpa deliciosamente doce. Depois, quando o fruto já faz parte do nosso corpo, ele próprio se solta da árvore e inunda-nos os olhos de cores e formas variadas: uns são amarelos, outros alaranjados ou roxos; uns são achatados, outros cónicos ou pontiagudos. Preferimos os que enchem bem a mão e têm a cor laranja de um sereno pôr-de-sol de Inverno sobre o mar, daqueles que costumam anunciar as fortes geadas de Janeiro. Talvez por isso o doce destas bagas enormes tenha um sabor tão frio, parecendo negar o calor da sua sensual aparência.
E a boca? A boca, aguada, fica-se pela aventura da imaginação a caminho de todos os desejos. Vive, sôfrega, entre o que vê e o que sente. E, por vezes, sente mais do que deseja. Por isso a deixamos calada, enquanto as mãos caminham, impacientes, pelos frutos dentro, rumo ao horizonte dos olhos.
Aí descansamos o cansaço da manhã no regaço da colheita.
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000.

08/10/2006

Legenda Íntima 115. Augusto Mota

Cadernos do Algoz

P
Um fino fio de fumo amarelo sobe-lhe pelos nós dos dedos até às unhas exemplarmente cortadas. Ele larga a beata. A sua mão trémula avança para a maçaneta. Os dedos encarquilham-se-lhe como uma garra. Roda o pulso. Empurra a porta. Entra na sala verde. A mesa está posta.
Na sala verde o condenado está agrilhoado de pés e mãos. Tem as mãos pousadas sobre o tampo. Olha em frente e respira tranquilo. Dois guardas ladeiam-no. Um deles coça ostensivamente os genitais.
O algoz dirige-se-lhe retirando de um dos bolsos um molho de chaves. Liberta-o das algemas e diz: Podes começar.
Ele aferrolha as pálpebras, cura o pescoço, une as palmas das mãos entrelaçando os dedos. Principia a meia voz um poema.
A colher imersa no clado fumegante inicia a subida. O condenado sopra, uma e outra vez, com redobrada atenção antes de a entornar sobre a língua e os dentes. Mal engole a mistura, o prazer enche-lhe de rugas o pano do rosto.
A refeição é composta por - duas fatias simétricas de pão escuro; um pires de azeitonas pretas ( temperadas com alho e orégãos ); um requeijão de ovelha cortado em fatias grossas ( polvilhado com pimenta preta ); uma taça de vinho tinto; e por fim, o caldo verde onde, no cimo das couves, flutua uma rodela de chouriço de soja.
A colher sobe. A colher desce. Bate no prato. Produzindo um som.
Plim.
Enche-se do caldo. Plim. Som esse que irrompe pelo pesado silêncio, juntando-se ao das correntes que gargalham a cada movimento quase imperceptível dos seus pés. As paredes são verdes. A luz difusa. O tecto branco. O chão de mármore. E a colher sobe. E a colher desce e bate. Plim. Enche-se do caldo. Ele repete o gesto uma dúzia de vezes. Tranquila e parcimoniosamente. A um dado momento pára. Inspira. Sorri. Segura numa fatia de pão escuro e cobre-a com duas de requeijão. Os dois guardas que o ladeiam agitam-se e fixam atentamente os seus olhos sobre o pão. Um deles continua freneticamente a coçar os genitais. O condenado não repara. Dá uma, duas dentadas e pousa a fatia novamente na mesa. Com uma delicadeza extrema retira do pires uma azeitona. Depois outra. Olha para o par no centro da sua mão como uma criança olha os seus berlindes preferidos antes de os lançar à cova: cheio de esperança e ternura. Usa a ponta dos dedos. Brinca maquiavelicamente. Aperta suavemente o corpo de cada uma delas entre o indicador e o polegar. Sente-lhes a espessura enquanto as faz girar, obedecendo ao sentido dos ponteiros do relógio. Depois de mastigadas as duas, depõe os seus caroços escuros, como dois cadáveres cilíndricos, paralelos, em cima do guardanapo.
O algoz frenético assiste a tudo. A sua tez confunde-se com as paredes e com o medo. As suas narinas estão dilatadas como as de um touro a resfolegar, bem como as suas pupilas. Uma onda de calor que lhe nasce do ventre invade-lhe todo o corpo. Leva as mãos à cabeça rapada. Arranha, o mais que pode, o couro cabeludo, usando as suas unhas exemplarmente cortadas. Sente um ligeiro formigueiro chegar à ponta dos dedos dos pés. Coça freneticamente os braços e as pernas até deixar vincos na pele. A sua respiração entrecorta-se. Enquanto a colher desce da boca do condenado e bate novamente no prato. Plim. O condenado mastiga. Mastiga. Mastiga. A mistura ultrapassa-lhe as amígdalas, a traqueia, o esófago. O condenado abre os olhos. A colher desce pela útima vez e bate no prato, produzindo o último som. O algoz atenta. O condenado sorri.
Sandro William Junqueira, inédito, in "Cadernos do Algoz".

06/10/2006

23 de Julho 1920 - 06 de Outubro 1999

ESTRANHA FORMA DE VIDA
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a saudade
Foi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Tem este meu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão
Que estranha forma de vida
Coração independente
Coração que não comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coração independente
Eu não te acompanho mais
Pára deixa de bater
Se não sabes onde vais
Porque teimas em correr
Eu não te acompanho mais
Amália Rodrigues, in "Versos", Cotovia onde encontrei

01/10/2006

Para Que A Memória Não Se Perca ...

30/09/2006

Nas Comemorações do Dia Mundial da Arquitectura

" Metropolis", de Fritz Lang, 1927.

No dia 3 de Outubro comemora-se o Dia Mundial da Arquitectura e a Ordem dos Arquitectos preparou um vastíssimo leque de actividades que decorrerão ao longo do País e nas ilhas, durante todo esse mês.
Assim, no dia 2, segunda-feira, na Biblioteca Municipal de Faro, será projectado o filme que Fritz Lang realizou em 1927, "Metropolis". Acompanha a projecção, a leitura de excertos de Mário Cesariny, Gonçalo M. Tavares, Herberto Helder, António Ramos Rosa, Allen Ginsberg e Albert Sánchez Piñol, por Sandro William Junqueira.
Luís Conceição, ao piano, interpretará composições de Béla Bartók, Frédéric Chopin e Ludwig von Beethoven.

veja onde lemos

29/09/2006


Fotopoema 66. Augusto Mota.

A Dignidade das Mulheres ( Excerto )

Honrai as mulheres! Elas entrançam e tecem
rosas divinas na vida terrena,
entrançam do amor o venturoso laço
e, através do véu casto das Graças,
vigilantes, alimentam o fogo eterno
de sentimentos mais belos, com a mão sagrada.
(...)
Na mais modesta cabana materna
foram deixadas, com modos envergonhados,
as filhas fiéis da natureza piedosa.
(...)
Mas, com modos mais brandos e persuasivos,
as mulheres conduzem o ceptro dos costumes,
acalmam a discórdia que, raivosa, se inflama,
As forças hostis que se odeiam
ensinam a maneira de ser harmoniosa,
e reúnem o que no eterno se derrama.
Friedrich Schiller.
Trad. de Maria do Sameiro Barroso.

26/09/2006

Legenda Íntima 122. Augusto Mota

11. Tem de ser

Tem de ser um raio de extrema claridade,
onde a densíssima luz da manhã se concentre,
um fio de gelo longo, translúcido, leve como o vento,
espetado neste pão de ternura prometida
ainda quente do forno da infância,
que é o teu sempre menino,
envelhecido coração,
unindo o infinito às secretas câmaras da terra
onde a memória se acomoda;
tem de ser um raio dessa luz que se embebeda
do olhar intenso das crianças
eaquece as frias manhãs da nossa perplexa solidão;
tem de ser um raio que coincida com o eixo do universo
e vá de uma à outra ponta
e me cegue de tal modo
que eu posso finalmente
ver a luz do outro lado -
António Simões, in ( poemas antigos ), inédito.

23/09/2006

Um som profundo do Outono

Como a floresta, faz de mim a tua lira
importa que também as minhas folhas caiam
o tumulto das tuas poderosas harmonias
virá arrancar-nos

um som profundo do Outono
suave, apesar da sua tristeza
Percy Bysshe Shelley ( 1792-1822 )
__________________________
enviado por Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com
http://cristalina.multiply.com

22/09/2006

o elogio dos sentidos

A caminho do Outono, apressadas, correm as árvores pela paisagem fora. Já são de ouro as cores das folhas que se espalham pelas mãos, à beira de todos os caminhos do corpo, quando o vento anuncia chuva e refresca os olhos cansados de tanta viagem pelo deserto das emoções.
Vamos, em breve, iniciar um outro ciclo de encontros desencontrados, como se o Outono tivesse que ser a estação de partida e de chegada de todas as viagens empreendidas ao sabor da memória e dos dias que a justificam.
Vamos, por certo, atravessar os extensos campos de arroz ( Orysa sativa ) quando os homens e as máquinas já se preparam para a ceifa das espigas maduras e alguns bandos de garças boieiras ( Bubulcus ibis ) ensaiam voos de migração rumo ao sul, rumo à Primavera de todas as aves.
Vamos, ainda, deixar os olhos recordar o verde do vale quando a luz rasante da manhã enobrecia os tons vários dos arrozais, ou quando as cores do poente pareciam antecipar-lhes a maturação. E o Mondego, de permeio, sempre a dividir a jornada entre a ida e a volta, como se ter que atravessar uma ponte fosse a mais correcta desculpa para tudo o que os olhos desejam: habitar, por exemplo, as ruas e os largos daquela aldeia do poeta Afonso Duarte, que a memória ainda vê rodeada de água por todos os lados, qual ilha perdida na bruma dos campos alagados pelas águas férteis de um Inverno que o rio deixou sair das suas margens. De longe, através das janelas de uma velha carruagem de terceira classe, vemos, ainda, nítidas, as casas reflectidas no vasto espelho da manhã, só quebrado aqui e ali pelos ramos angustiados das árvores que tentam sobreviver a tal tormento, enquanto o comboio se afasta, ronceiro, contornando os campos semeados de água e desespero.
Vamos, pois, ter esperança nas viagens que havemos de fazer pelas cores adentro que as árvores, propositadamente, foram abandonando em nossas mãos. E não deixaremos que tal esperança desapareça nas águas quando elas baixarem e quase só alimentarem as valas de enxugo que vão riscar a paisagem como esteiras de luz, anunciando, assim, o fim de todos os invernos. Começam, então, os primeiros amanhos dos campos, com os animais e as máquinas a lavrarem a terra e a água onde crescerão as espigas que iluminam o nosso contentamento de hoje.
Vamos, sobretudo, fazer o elogio dos sentidos que permitem ao corpo o sustento das mãos, espalhando, como adubo natural, as boas recordações de ontem sobre todos os campos agora já arados, para que as espigas cresçam mais depressa e o grão seja mais suculento.
Assim, a boca agradecerá a festa e o esforço.
Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.

21/09/2006

Chegou o Outono

Legenda Íntima 128. Augusto Mota
"O Outono é a Primavera do Inverno "

19/09/2006

Legenda Íntima 125. Augusto Mota.

as rotas do cársico

Os olhos viajam sozinhos pelos caminhos da serra, enquanto a tarde vai diluindo a paisagem no horizonte longínquo, para lá do rio que nos atravessa o corpo e das pontes que atravessam o rio. Pelas rotas do cársico remamos, então, sem destino, ao sabor do tempo que escorre lento pelas aldeias sombreadas do vale. Umas vezes passamos sob as pontes que ligam o passado e o futuro. Outras, passamos sobre aquelas que nos levam ao encontro do presente. Mas em todas navegamos, como se a água fosse a via certa para esta memória do presente.
Cruzando pontes, navegamos recordações. Cruzando recordações, lançamos pontes através dos espaços vazios entre os dedos, quando estes só servem para contar as horas que sobram para a viagem de regresso.
Regressamos ao presente. No mercado de todos os afazeres compramos o tempo que, antes, não tivemos. E passamos sobre pontes que, antes, só passáramos por debaixo, enquanto remávamos, ausentes, em direcção aos algares da memória. E cruzamos a serra em todas as direcções, já que uma subterrânea engenharia nos quis facilitar a inversão do curso dos rios que, agora, como dois mensageiros da noite, correm paralelos rumo aos oceanos perdidos entre o futuro e os continentes das nossas próprias emoções.
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000.

17/09/2006


Fotopoema 70. Augusto Mota.

10. É só virar a mão

Não me chores quando eu partir:
vou para o outro lado,
para o avesso da vida -
É só virar a mão:
e tens-me de corpo e alma
na concha da tua palma.
António Simões, ( poemas antigos ),inédito

11/09/2006

11 de setembro de 2001

Fotografia de M. Atkinson, in "G.Emini"