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E foi assim, num ambiente descontraído e muito bem disposto, que "Wanya - Escala em Orongo", se reencontrou com o público português, amante de Banda Desenhada. Fotografias de Nuno Verdasca e Pedro Carvalho.
2 .A boa disposição, como é visível, reinou durante toda a sessão. À esquerda, vê-se Augusto Mota, ao centro, a pintora Maria João Franco, viúva de Nelson Dias ( autor das pranchas desenhadas ), e em quem o mesmo se inspirou para dar vida ao personagem Wanya, e, à direita, José de Matos-Cruz, autor e crítico literário de BD.
4 .Augusto Mota e Orlando Cardoso, historiador, escritor e poeta que, recentemente, foi galardoado com o 1º Prémio de Poesia pelo IPL ( Instituto Politécnico de Leiria ).
AS MIL ARTES DE AUGUSTO MOTA QUE CRIA PARA O PÚBLICO, NÃO PARA EXPOSIÇÕES
Há mais de 30 anos, Augusto Mota dizia assim numa entrevista dada ao “Jornal de Notícias”: “Cada artista devia – utopicamente devia – ensinar tudo e a toda a gente. As escolas, as fábricas, as oficinas, deviam ser orientadas por um gosto novo e consciente. Tudo como está me parece desencontrado.”E, muitas linhas abaixo, respondia que “o mural é a forma mais útil de participação na comunidade, a mais responsável. (…). Será, sobretudo, a forma menos egoísta de realização artística, se não se trair a sua função popular e o deixarmos estar no jardim, na escola, na gare, na praia, na fábrica, no café, no cinema, na igreja, em todos os sítios onde a vista não tenha reservado o direito de admissão.”Se bem o disse, melhor o fez. Na Escola Domingos Sequeira, onde foi professor de inglês, o artista plástico Augusto Mota deixou um grande trabalho seu em espaço público, colocado bastante tempo antes de se aposentar.Para uma das paredes do desaparecido Café Colipo, pintou uma gigante “Lenda do Lis e Lena” que está hoje armazenada algures, com mazelas difíceis de recuperar.Para as instalações da antiga “Carvalho & Catarro”, concebeu “As conquistas da Ciência”, um painel de quatro metros cujo paradeiro desconhece.Quase do mesmo tamanho, eram dois trabalhos que decoravam as paredes dos Supermercados Ulmar. “Foram assassinados”, lamenta hoje Augusto Mota. Uma parte da sua superfície está escondida por prateleiras; e o resto foi coberto por tinta plástica. Serão recuperáveis? “Talvez…” – diz Augusto Mota com grandes reticências. “É mais importante a intervenção artística nos espaços públicos do que nas galerias”, teima Mota em repetir, não obstante os desaires relatados. E foi com essa preocupação social que, quando jovem, se juntou a Miguel Franco, Guilherme Valente e Rui Branco, com Álvaro Morna a fazer uma perninha, para publicarem regularmente o “Pinhal Novo”, suplemento cultural do REGIÃO DE LEIRIA. E – parece mentira! – pagavam, dos seus próprios bolsos, 500 escudos para a inserção de cada edição neste semanário.Cultor de solidariedades, Augusto Mota participou, nos idos de 60, noutra experiência de grupo: uma mostra colectiva de poesia ilustrada através da qual um grupo de jovens intelectuais leirienses levou as suas preocupações sociais a expôr em Leiria, Marinha Grande e Monte Real. A única frase que recorda, das que ficaram registadas no livro de honra, dizia assim: “Mereciam ir todos presos”.Outro sinal da repressão sufocante que foi contemporânea da juventude de Augusto Mota, foi a apreensão dos exemplares da revista “Gafanhoto”, um periódico de banda desenhada que custava cinco tostões na Papelaria Vital, no edifício do Mercado de Santana, no sítio onde ainda há poucos anos existia um talho. O miúdo Augusto, que assistiu à cena de olhos arregalados, teve dificuldade em perceber porque é que aquele senhor, afinal um polícia à paisana, não deixava que uma tão inofensiva revista se vendesse. E a surpresa da criança não ficou mais pequena, quando lhe explicaram que… a culpa era do Cuto, um garoto traquinas cujo desenhador, Jesus Blasco, fazia viver aventuras demasiado rebeldes para uma época em que todas as actividades e leituras dos adolescentes não podiam desviar-se dos domesticantes parâmetros da Mocidade Portuguesa.Talvez tenham sido estas proibições aquilo que desencadeou em Augusto Mota um fascínio muito especial pela banda desenhada, que culminaria com a sua participação, como argumentista, na elaboração de “Wanya – Escala em Orongo”. Editado em 1973, foi um álbum de sucesso, que chegou a ser traduzido para a Alemanha.Porém, já dez anos antes Augusto Mota se aventurara noutro empreendimento: o do desenho animado. “Variações sobre o mesmo Traço” foi uma experiência concebida mediante técnicas muito pessoais, que lhe granjeariam uma meia dúzia de prémios, incluindo dois primeiros: num concurso de cinema de amadores da Figueira da Foz e no Primeiro Festival Nacional de Cinema de Amadores de Guimarães.Para realização pessoal, criou outros filmes que guarda para si. Alguns foram realizados de parceria com o conhecido poeta Alberto Pimenta, seu colega de curso em Coimbra. Aliás, os primeiros quatro livros de Alberto Pimenta possuem assinatura de Augusto Mota. Como tantos outros, dos mais diversos autores. E como os livros de todos os autores, que o leitor porventura adquira na Livraria Martins. Quer dizer: são de sua autoria, os desenhos das sobre-capas que a livraria oferece. …E encerramos com a frustração de ter deixado muito por dizer. Das incursões de Augusto Mota pela escrita, da sua intensa actividade como gravador de linólio, madeira, serigrafia, da sua componente humanística colocada ao serviço da população da sua Ortigosa, do seu culto pelas plantas, bem evidenciado no seu desafogado jardim, onde todas as espécies estão identificadas…Vejam lá, que até o nosso propósito inicial ficou no tinteiro! Que era destacar o pioneirismo de Augusto Mota nas artes gráficas leirienses. Os seus cartazes, que muita gente tem visto e pouca tem identificado o autor… Os seus logotipos criados para as mais diversas empresas ou instituições… Os seus estudos para caixas de tomates, tampos de sanita, copos, óculos, camisas, pão de ló…
*Este texto foi publicado no Região de Leiria em 2 de Setembro de 2000, assinados por "José Freire de Oliveira". A utilização do nome completo do autor (e coordenador do Buraco da Fechadura) era uma exigência da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, com a alegação de que já existia uma carteira emitida com esse nome, para um fotógrafo que assinava profissionalmente "José Oliveira". A situação foi ultrapassada na revalidação seguinte da carteira, mercê da declaração do fotógrafo homónimo que amavelmente declarou que não publica textos, ao mesmo tempo que o coordenador do 'Buraco' declarava que não assina fotos.
posted by Zé Oliveira
Referências, à 2ª edição de WANYA, na Blogosfera:
http://wanya-escalaemorongo.blogspot.com/
http://kuentro.weblog.com.pt/arquivo/257325.html
http://janelaurbana.clix.pt/ler-1001-categoria-7.html
http://www.truca.pt/imaginario.html
http://va.vidasalternativas.eu/?p=623
http://casamarela5b.blogspot.com/2007/09/brevemente-reedio-de-wnya-escala-em.html
http://casamarela5b.blogspot.com/2008_01_01_archive.html
http://tebeosfera.com/Obra/Tebeo/BuruLan/ElGlobo/Indice.htm
http://matebarco.multiply.com/reviews
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/221114
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=321017&visual=26&tema=5
http://sara-franco.blogspot.com/2008/01/entrevista-para-o-programa-de-rdio.html
http://becodasimagens.blogspot.com/
http://chavedoburaco.blogspot.com/
http://palaciodasvarandas.blogspot.com/
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Nota de Rodapé
Caros amigos,
4 .Capa Final de "Wanya - Escala em Orongo"
"WANYA - ESCALA EM ORONGO", UMA TOMADA DE POSIÇÃO NO CONTEXTO CULTURAL PORTUGUÊS
Um acontecimento de relevante importância ocorreu recentemente na Livraria Opinião com o lançamento de um álbum de banda desenhada que se afasta deliberadamente de tudo aquilo que se fez até hoje em Portugal: Wanya – Escala em Orongo.
Os seus autores, Augusto Mota e Nelson Dias, concederam-nos alguns momentos de atenção, durante os quais procurámos avaliar as suas intenções, detectando o que representa para ambos a linguagem da banda desenhada.
Vasco Granja – Diga-me, Augusto Mota, que significa a vossa criação de “Wanya – Escala em Orongo”?
Augusto Mota – Parece-me ser necessário referir, em primeiro lugar, a necessidade de produzir banda desenhada, encarando este facto como uma experiência importante para nós.
É também uma experiência importante editar uma obra como “Wanya - Escala em Orongo”. É também uma enorme responsabilidade para o editor, pois, como se sabe, verifica-se uma certa relutância no nosso meio em editar banda desenhada como uma forma de arte.
V.G. – É portanto uma experiência inédita para vocês.
A.M. – Eu até preferia chamar-lhe, em vez de banda desenhada, um outro nome, por exemplo, narração figurativa, pois de “Wanya – Escala em Orongo” sai um pouco fora do âmbito normal dos quadradinhos na medida em que o grafismo é diferente, concedendo um lugar destacado a uma visão subjectiva, e o texto é utilizado com uma força distinta do habitual, sublinhando determinados aspectos do desenho. Com esta obra, e sem pretender intelectualizar a narração figurativa, tentámos que ela fique enquadrada, no contacto português, dentro do plano de criação cultural positiva.
Por entendermos que muitos dos intelectuais portugueses se afastam de tudo o que seja a narração por imagens, decidimos mostrar que esta deficiência de natureza estética não tem justificação.
“Wanya – Escala em Orongo”, significa portanto uma tomada de posição em relação a certos preconceitos mantidos por uma geração que não aceita a originalidade da narração figurativa.
A IMPORTÂNCIA DA IMAGEM
V.G. – Encara a narração figurativa como uma forma de arte?
A.M. – Sim. Tudo o que é imagem tem um significado muito especial no mundo de hoje. Permito-me destacar a importância da narração figurativa onde a imagem representa uma função diferente daquela que desempenha no cinema ou na televisão, cujo carácter fugitivo não permite o espectador apreender os seus pormenores. Claro, trata-se de linguagens distintas, cada uma delas com os seus próprios princípios.
V.G. – A narração figurativa para si é o meio ideal de comunicação?
A.M. – Para mim, representa alguma coisa mais do que aquilo que nos permite a palavra.
V.G. – Como nasceu “Wanya – Escala em Orongo”?
A. M. – O trabalho inicial deve-se a Nelson Dias, que começou a criar desenhos sem qualquer texto. Executou seis pranchas, mostrou-mas e solicitou a minha colaboração como argumentista.
UMA EXPERIÊNCIA QUE RESULTOU
V.G. - É melhor perguntar a Nelson Dias como a história se desenvolveu…
Nelson Dias – Tudo começou por eu sentir uma irresistível necessidade de desenhar. Sou pintor por formação e toda a minha vida tem sido dedicada à pintura. Mas em certo momento, numa época em que as condições de trabalho não eram muito favoráveis, por não dispor de um estúdio para pintar, decidi começar a desenhar segundo uma óptica particular que é a narração figurativa.
A banda desenhada exige uma disciplina muito peculiar. Inventei uma personagem, sem pensar em qualquer base narrativa, pois nunca pensei que as experiências então feitas levassem à concepção de uma história. Estava convencido de que não passava de uma experiência, da qual acabaria por desistir devido a diversos factores.
Quando cheguei a acumular seis pranchas mostrei o trabalho ao Mota que se entusiasmou e comprometeu-se a elaborar um texto, obrigando-me a prosseguir o que estava feito.
A BANDA DESENHADA É POSSÍVEL EM PORTUGAL
V.G. – Como vê o aproveitamento deste álbum no panorama geral da cultura portuguesa?
N.D. – A nossa preocupação é mostrar que se pode fazer banda desenhada em Portugal. Com conteúdo filosófico tão empenhado como o que estamos habituados a ver na produção estrangeira. Como não há revistas onde os originais portugueses possam ser publicados, a solução que nos pareceu melhor foi a edição do álbum, o que nos permitiu uma maior liberdade de concepção gráfica. A este respeito posso dizer que “Wanya – Escala em Orongo” não teve qualquer imperativo comercial a limitar o nosso esforço criativo
Entrevista com Vasco Granja
(Publicado por Sara Franco)
Situado em Zadar, uma cidade no litoral da Croácia, duramente castigada durante a 2ª Guerra Mundial, encontramos o Orgão do Mar, ou seja, degraus cravados em rochas que têm no seu interior um interessante sistema de tubulações e que, quando empurradas pelos movimentos do mar, forçam o ar e, dependendo do tamanho e velocidade das ondas, criam notas musicais ou sons aleatórios.
Criado em 2005 e tendo ganho um prémio europeu para espaços públicos - European Prize for Urban Public Space - este Orggão do Mar recebe turistas de várias partes do mundo e que aqui vêm escutar uma música original que traz muita paz.
Por outro lado, o lugar também é conhecido por oferecer um belíssimo pôr-de-sol, o que ainda mais agrada às pessoas que visitam a cidade
Veja a estrutura interna das "escadas" e o detalhe das cordas e notas musicais que somadas à energia das ondas criam sons...
Curiosamente, as aberturas no cimento servem para o Orgão "respirar" e, simultaneamente, para repercutir os sons criados nas tibulações.
ontem ,sábado ,dia 5 ,faleceu Luiz Pacheco .tinha 82 anos .como autor ,deixa alguns livros que (como quase sempre entre nós) estão esquecidos.
ouvidos pela Lusa ,Vítor Aguiar e Silva ,da Universidade do Minho ,e ,Manuel Gusmão ,da Universidade de Lisboa ,disseram: «Sempre admirei muito em Luiz Pacheco o seu espírito de irreverência, a liberdade crítica, a capacidade de destruir corrosivamente as convenções, quase sempre mortas já. [...] Era um espírito que, naquela atmosfera passiva, adormecida, dos anos 50, 60 e ainda 70, trouxe, por vezes com excessos de linguagem, uma lufada de ar novo. Era dos espíritos mais irreverentes deste país.» [V.A.S]; «Obra escassa, mas bastante interessante, com destaque para Comunidade e O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor [...] praticou uma fusão entre a literatura e a vida, o que significa uma espécie de projecto de linhagem romântica, mas de cariz surrealista.» [M.G.]
curiosamente, em vida de Luiz Pacheco, não nos parece que tenham escrito sequer uma linha a seu respeito .mas ,a distracção pode ter sido nossa, razão porque os citamos
nestes dois filmes ,a homenagem de toda a tripulação de uma irreverente "nau"