29/01/2014

Décimas






A ARTE DE FAZER DÉCIMAS

Nota prévia: Pontos é a designação popular alentejana de verso.
                          Verso é o mesmo que quadra.


   
                                                           
De quatro pontos se parte,
E o verso cresce, fermenta.
Se trabalhares com arte,
Dos quatro farás quarenta.

                 I
Este é o primeiro ponto,
Os outros virão depois,
Um a um e dois a dois,
Até lhes perderes o conto.
Para o verso ficar pronto,
Tens, amigo, de esforçar-te.
Irás à Lua e a Marte,
Dentro do teu pensamento –
Mas não esqueças um momento:
De quatro pontos se parte.

                 II
É como a massa de pão,
Quando se junta o fermento:
Cresce que é um portento
Com a nossa inspiração,
Vai levedando à razão
Do que o poeta acrescenta;
Vá, amigo, experimenta,
Se ainda não experimentaste:
Imaginação que baste,
E o verso cresce, fermenta.

                III
Mas claro que a receita
Não é só isto, afinal,
Pra crescer ao natural,
Sem sofrer qualquer maleita:
Pode a rima ser perfeita
E o resto ser um desastre;
Terás, pois, de esforçar-te –
Sê claro em cada sentença,
E terás a recompensa
Se trabalhares com arte.
              
                IV
O verso é como a pessoa
Que cuida da aparência,
E se veste com decência
Seja aqui ou em Lisboa:
Não digas coisas à toa,
Senão, ninguém te aguenta:
Usa bem a ferramenta
De maneira que se note –
Dos pontos que são o mote,
Dos quatro farás quarenta.

                                                               António Simões






Nota final: fotos de Augusto Mota tiradas no dia 23 de Junho de 2001 durante a ceifa da seara da Confraria do Pão (Alentejo), actividade também integrada no programa da Homenagem que a Confraria prestou à memória da vida e obra do mais ilustre Alentejano do século 20: Bento de Jesus Caraça. O programa  prolongou-se ainda pelo dia 24. Aí expuz, durante esses dias, «Quadras&Quadros», trinta ilustrações digitais sobre trinta quadras do livro de António Simões «Minha mãe amassa o pão», uma edição da Câmara Municipal de Beja, 2001.

*editado por augusto mota  
 

1 comentário:

Olivia disse...

Excelente!