MEU TRAVESSO CORAÇÃO
Meu travesso coração,
Não sei pra onde me levas –
Fica a arder na minha mão,
Deixa-me longe das trevas.
Ó meu velho coração,
Tu continuas travesso,
Podes ser d’oiro ou não,
Que para mim não tens preço.
Meu travesso coração,
Ó coração de menino,
Nos tempos que já lá vão,
Eras ledo como um sino.
Meu travesso coração
Batendo num canto de água,
És minha mãe ao serão
Embalando minha mágoa.
Meu travesso coração,
Tão leve como se fosse
Esse manjar d’arroz doce
Dos velhos tempos de então.
Meu travesso coração,
Ó meu carro dos brinquedos,
Fugindo de supetão
Pela estrada dos meus dedos.
Meu travesso coração,
Minha folha de alabaça,
Vibrando se o vento passa
Ou se lhe sopra a paixão.
Meu travesso coração,
Meu travesso coração,
Ó meu motor de magia,
Bates noutra dimensão
Quando eu me for um dia.
Meu travesso coração,
Meu motor bem oleado,
Toda a vida te ouvirão,
Aqui e no outro lado.
Meu travesso coração
Cantando pela manhã,
Se tu és do sonho irmão,
A vida é tua irmã.
Meu travesso coração,
Nunca mais ganhas juízo:
Assentas os pés no chão,
O resto no paraíso!
Meu travesso coração,
Aonde vais tão à pressa?
Devagar, ó meu irmão,
A vida apenas começa.
António Simões, 2008
ilustração: um coração que andava "perdido" na net !
2 comentários:
Mariana Pereira: Lindo Demais, o poema!!! E, pequenino e belo coração, "que andava "perdido" na Net", e um Sábio e Ilustre Poeta (Leiriense-Ortigosa), de nome Augusto Mota, encontrou!...Delicadamente "agarrou" e, colocou num cantinho, ao abrigo da chuva e do vento!!!...
Excelente! Obrigada Dr. António Simões e Dr. Augusto Mota!
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