02/03/2006

as muralhas de jericó

O peito aberto é a espada ávida dos novos cruzados. A conquista passa sempre pelo ritual dos dias e Jericó anuncia o cantar da madrugada. Os guerreiros despem a cota de malha e oferecem o corpo à sagração da luta e beijam a vida e a morte no ardor de cada segundo. Mas o silêncio da luta só perpetua o gesto das mãos que correm e percorrem o calor da eternidade. Se cada segundo é o pulsar da artéria, então, aí, jaz a eternidade, no pulsar da artéria, entre as mãos que conquistam o amanhã de todas as madrugadas e a boca que saboreia o ocaso do futuro. É nesse momento preciso, em que tudo excita e consome a memória dos dias, que a vitória canta e rejubila entre as muralhas do desejo.
Depois amanhece o presente como se fora o sabor de um horizonte proibido e tudo se esvai entre as mãos que acariciam o sol, ou o futuro.
Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito subtil esta passagem.