05/10/2005

Minha Mãe amassa o Pão

Minha mãe amassa o fumo
Que sobe das chaminés -
Pão volátil, pão sem rumo,
Eu não sei o que tu és.
Minha mãe amassa a brisa
Que mal se sente passar -
Tão leve, o pão desliza
Entre os lábios devagar.
Minha mãe amassa o rito
Duma missa muito sua:
No altar do infinito,
A fazer de hóstia, a Lua.
Minha mãe amassa crente
Na bondade desse Deus -
Só que às vezes não entende
Que desígnios são os seus.
Minha mãe amassa e sonha
Com a paz dum mundo novo,
Sem essa vida tristonha
Que era a vida do seu povo.
Minha mãe amassa e canta -
Duma coisa está segura:
Um dia o sol se levanta
Sobre o fim da ditadura.
António Simões, in "Minha Mãe Amassa o Pão", Câmara Mun. de Beja.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não sei de outro lugar
Onde me encontre de forma tão perfeita,
E original...

Anónimo disse...

Olho este poema,
leio-o,
e passo a sê-lo;

Anónimo disse...

inspiradíssima e sempre querida, Anamar!

Anónimo disse...

como, de uma forma tão simples, se pode dizer tanto.

muito obrigada pelo seu ser poético, Maria Júlia.