23/10/2005

O SOL, A LUA E O ASTRO MAIOR / arte in vitro

I
tocatta a quatro mãos...
...em fuga
existe o luar
a sombra dos poetas e os seus reflexos ,nos sonhos
?fora ,os riscos da rotina .de viver
é necessário acordar .levantar e começar um novo dia
.bocejo
.9h00
- come o nosso poema ,mas lava os dentes .como medida de precaução - dizes-me à laia de despedida
.atiro um beijo ,agarro o casaco ,pego nas chaves do carro e desço as escadas a correr .faz frio .o carro não pega
.vou a pé ,tropeçando em coisas e pessoas feias
.10h00
subo as escadas devagar .bom dia .sento-me à secretária .ligo o computador
.sou um autómato .sou um robot .enter
!devoro palavras e risos durante o dia
.18h30
.saio
.lembro-me que não trouxe o carro e amaldiçoo as coisas e as pessoas feias
.sou um autómato .sou um robot .enter
!quem distingue de mim o outro lado de mim
?2h01
em cima da cama o livro dos nossos poemas .os de hoje e os do futuro
.adormeço .onde se projectam as sombras
?sonho a preto e branco
sem legendas
II
thriller em mãos...
...dúplices
sem legendas
recomeço o thriller que o cineasta deixou esquecido no canto esquerdo de um qualquer quarto
.tinha de ser aquele quarto .aquele canto
.era Verão .foi Inverno
.não sei filmar - reflicto - certa de que
os robots ,mimeticamente ,reproduzem os gestos para que são programados...
... e o meu servidor insiste no mesmo relatório de erros
.o conflito entre o tudo e o nada
.o nada de me saber aquém dos limites
o tudo de te querer para além do nada
temporária confusão
inserida no livro de poemas jamais escrito
no meu presente / no teu futuro
no thriller lê-se a palavra FIM
( subsiste ,obsessivamente,
a dúvida )
o nada e o tudo
acordo
agarro as chaves do carro
desço as escadas a correr e
atiro a porta
ao sair
vivo a vida
e sorrio
ao
sol
meu
astro
maior
gabriela rocha martins, inédito, Janeiro 2004.

10 comentários:

Anónimo disse...

Rendo-me vencido à força deste texto. Um absurdo percurso onde tudo se transfigura...Aqui onde as divindades deixaram rastos de sublimação

Anónimo disse...

Ah, não, Gabriela!
Esta tua brincadeira é demasiado séria para o comum dos mortais.
Ultrapassate-te, minha amiga!

Anónimo disse...

Ouso afirmar que fiquei agradavelmente surpreendido com este inusitado texto...
Parabéns, Maestrina!

Anónimo disse...

Não acredito!!!!
Só tu, Maria Gabriela!!!!!!
1 bj.

Anónimo disse...

Recortas a solidão em ângulos rectos, na esquina de dentro, no inverso, dum texto inscrito a duas mãos semi divinas.

Anónimo disse...

Que incoerência tão lúcida ! Corroboro a ideia da Anamar que a conhece tão bem, a si, Gabriela! Inacreditável ..., mas, todavia ... sério, muito sério, não é ?
Um abraço.
Fernanda.

Anónimo disse...

Recorto a solidão em ângulos rectos, na esquina de dentro, no inverso, de nós,
e fico absorto...meditando a sós!

Anónimo disse...

Exuberante, assim, inconsciente,
regressas em majestosa fluidez
ondulatória neste timbre incerto.
És Fénix reneascida, és diferente.

Anónimo disse...

apenas...grata...sem demais, sou.

Anónimo disse...

urge, porém, uma explicação a todos os nossos leitores.
os textos "O SOL,A LUA E O ASTRO MAIOR" inserem-se numa linha que deveria ter dado à luz em Janeiro de 2004.
então concorremos ao IPLB com um projecto, deveras ambicioso, de revista de língua e literatura - LITTERARIUS - cujo primeiro número tinha como tema a Utopia.
daí o sub-título enunciado:"Sol, Lua...".
são colaboradores efectivos - Ernesto de Mello e Castro, e, mulher ( Amélia Vieira ), Risoleta Pinto Pedro, Inocência Mata, Maria Toscano, João Rui de Sousa, Mário Máximo, Paulo Brito e Abreu, Manuel Neto dos Santos, Anabela Lourenço, e, Gabriela Rocha Martins.
por falta de verbas o projecto ainda não se viabilizou. todavia, a qualidade e a temporalidade dos textos exigem que os mesmos sejam publicados. aqui. no "Palácio das Varandas".
outros seguir-se-ão.
assim manda o "fado luso"...não desistimos. contornamos quando nos dizem NÃO.
...o "Palácio das Varandas", o blogue, é o hoje...Litterarius, a Revista, será o amanhã.

obrigada. um beijo.