02/02/2006

na periferia do esquecimento

Quantas palavras se escondem por detrás de um gesto? E que olhares se escondem por detrás de uma palavra que navega na periferia do esquecimento? Será necessário, por certo, inventar uma nova semântica que ritualize o esforço dos gestos e dê ao corpo uma dimensão tão sublime como se alguém o estivesse a esculpir no mármore mais precioso, fazendo de seus veios as veias onde pulsam os mistérios da vida.
Algumas palavras também esculpem, em sua secreta significação, o corpo frágil da memória para, depois, se arrastarem pelos veios frios da pedra num delírio febril que vai deixando os sentidos ora ausentes, ora exangues.
O escultor, então, confunde-se com a sua própria obra esculpida e cada silêncio é a força decidida e precisa do cinzel a desbastar a matéria e a vida.
Augusto Mota, inédito, in "A Geografia do Prazer", 2000.

3 comentários:

Anónimo disse...

As palavras são o signo das emoções recalcadas.

Anónimo disse...

É tão forte ler Augusto Mota. Converte os incrédulos, ou as incrédulas...

Anónimo disse...

O Escultor é como o Poeta. Dissolvem-se na Ausência -. Assim o escreveu, um dia, a Maria Gabriela e eu retive, em absoluta concordância.
E, de novo, o Augusto vem demonstrar que assim é.
Tudo tão magnificamente perfeito.