A água, a flor e o lume, as variações do hipocampo,
a Estela Guedes falando de Herberto Helder.
Estávamos em Silves, a noite era fria, o vento lúcido,
ao longe, um incêndio.
A água era a ânsia, a flor, onde os meteoros passavam
e se acolhiam.
Entre o hipocampo e a amígdala, a serotonina
um hibisco secreto.
Sobre montanhas claras hialinas, as libélulas
circulavam.
Nas oscilações da lua endógena, o céu floria,
nas grandes árvores do cérebro. Nas metáforas da água, o céu era uma estrela
que cantava a luz, o seu odor.
A noite era um violino, onde os leões bebiam
a sua sede.
Ao longe, o deserto brilhava, entre âmbar, rolas.
No corpo, as neblinas transformavam-se,
em canteiros verdes. Num rasto de sândalo e perfumes, lavava os meus olhos.
Nos limões repletos, o sonho dilatava-se,
amígdala cerebral era uma floresta de musgo,
um pedúnculo dourado.
Estavamos em Silves.
Entre artefactos de cortiça e cancioneiros de lume,
a sede estendia-se, a lua flutuava e o silêncio fluia, nas suas membranas cor de pérola. Maria do Sameiro Barroso, inédito, Lisboa, 14 Maio 2005
3 comentários:
Versos que trazem até aqui as olorosas brisas do sul, vindas de um oriente mediterrânico tão presente. Muito agradável.
Fernanda.
Hoje, antes de adormecer, lerei alguns poemas de Maria do Sameiro Barroso. Têm a cadência do versejar arábico e relembram-nos as cálidas noites sulinas.
Esta poeta captou o nosso pulsar. Apercebe o crepitar do fogo.
De muitos fogos.
A metáfora do fogo.
E da água.
De muitas águas.
não devo comentar os vossos comentários.
apenas reforçá-los.
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