26/09/2005

Lamento


Legenda Íntima 55. Augusto Mota Posted by Picasa
Para a Fernanda Sal Monteiro
Que metáfora, como onda solitária, varre o areal da madrugada, mesmo antes de as primeiras pegadas anunciarem as viagens para sul?

Que onda solitária, como metáfora, varre o areal da memória, mesmo antes de as primeiras viagens para sul anunciarem as primeiras pegadas?

Tristes lamentações estas de fim de Verão, quando as viagens já são sem retorno e não deixam na areia da vazante rasto que nos possa ensinar o caminho de regresso a casa!

Assim, mais vale rumar a norte e esperar que os ventos propícios nos refresquem os olhos, enquanto as águas mais frias nos avivam a memória de tudo o que ainda há para fazer: seja adormecer ao som da lua nova, à beira-mar, seja acordar ao som dos primeiros raios de sol, à beira das fontes que alimentam o rio, como se alimentassem a vida.

Vamos, pois, lavar as mãos nesta corrente fria que nos atravessa a garganta e, com elas ainda húmidas, escrever no areal da memória a metáfora solitária da despedida.

Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000

5 comentários:

Anónimo disse...

Your blog is great . If I can help, let me know. If you ever need any printing done, I'm sure you'd be interested in Posters Try Posters

Anónimo disse...

Thanks a lot

Anónimo disse...

como a AMIZADE pode ser traduzida num magnífico texto escrito por Augusto Mota, ele que, como ninguém, sabe transformar o grito em canto.

obrigada, Augusto e obrigada Fernanda por me lembrarem, diariamente, o que é e o que deve ser a AMIZADE.

obrigada, também, por partilharem esta aventura traduzida em POESIA chamada Palácio das Varandas...

..."meu cavalo sem ter rédeas,
que não sejam registos de memória,
trespassa o Cronos de anciãs tragédias
e dos gestos mais simples faz histórias".

Anónimo disse...

Assim também, gestos simples de artistas Amigos fizeram registos de uma história guardada na memória não conformada. Este texto, que aqui não está datado, foi registado pelo seu autor no dia 31/08/1999, em memória do companheiro da minha vida que, nesse final desse verão, os deuses roubaram à vida : à minha, e sobretudo à dele. Agradeço a amizade do gesto. E vou lavar as mãos, mas também os olhos, na corrente de água fria para poder escrever eternamente no areal "o nome que no peito escondido/guardado tenho".
Bem hajam, Amigos.
Fernanda.

Anónimo disse...

não agradeça, Fernanda. os gesto são, apenas, o amenizar de um sonho.a metáfora.