Al Mu'tamid traçara-lhe o destino, a rota do Sul,
as cores fortes, a fronte clara, a herança mourisca.
Dois dias depois, uma a uma, guardo todas as suas pétalas,
os seus ramos altos, as suas reminiscências odorosas,
os seus átrios de luz e poesia.
Nos seus rios, correm lendas antigas, desdobradas
em murmúrios ávidos, incendiados junto às laranjeiras
abertas, em suas copas de magia. Dois dias depois, recordo a sua igreja, o seu castelo,
a sua terra vermelha,
o Foral que lhe concedeu a liberdade.
No seu hálito fulvo e branco, há cálices, redomas
onde a palavra arde e o silêncio urge.
Nas ruas, há relatos, centelhas, clamor, memórias claras,
fruto e seiva que se desprende das árvores e das libélulas
inebriadas, sobre espáduas de harmonia. Dois dias depois, sobre clepsidras antigas, recordo
a sua candura, as suas gentes, as fontes e os dias floridos,
acesos, sobre candelabros flutuantes,
junto aos ramos de perfume e os beirais
onde os pássaros debicam, na frescura da noite, seu corpo azul de alegria. Maria do Sameiro Barroso, inédito, 26 Abril 2005
6 comentários:
Dois dias depois...regresso e encontro, a sul, o canto morno da terra.
Palavra ardente...recordação de três dias vividos em POESIA.
Arte Maior, em Silves cantada.
Obrigada.
Fui POEMA em recordação MAIOR.
Repousam no azul, em convulsões,
Estes pedaços de Éden, de emoções.
foram, de facto, dias muito bonitos os que vivemos em Abril de 2005.
sabe sempre bem recordar, quando as lembranças são bonitas.
obrigada, Anamar. obrigada pela tua presença sempre constante e, sobretudo, pela tua amizade, certa.
foste e és poema enquanto poeta, Manuel.
obrigada!
porque os últimos, às vezes, tão só às vezes, são os primeiros, obrigada, Teresa pelo enriquecimento quase diário dado a este blogue e a estes amigos...
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