03/11/2005

IV. De mudar a vida não se cansa

56.
Correm turvas as águas deste rio
Que em minha alma corre sem descanso;
E ora vai irado, ora manso,
Se eu me sinto calmo ou desvario.
Correm turvas se turbado eu guio
Os meus pensamentos;
mas quando alcanço
A plena razão, é nesse remanso
Que mais claras as águas aprecio.
Correm às vezes cobertas de flores
Que mais parecem peixes voadores
Com essas asas que lhes dá o sonho.
Corre incerto o rio do pensamento,
Ora tumultuoso, ora lento,
Ora alegre e claro, ora medonho.
António Simões, in "Amor é um fogo que arde sem se ver, e outros sonetos".

3 comentários:

Anónimo disse...

É com rigor e sobeja mestria que António Simões verseja e nos transporta para lá do sonho.

Anónimo disse...

Aqui repouso nos braços de um poema, Amigo...

Anónimo disse...

e eu, aqui vos deixo um beijo amigo.