13/11/2005

Soneto a Dois Corpos

Repara bem: isto é o meu corpo -
Com palavras me esculpo e dou forma,
Enquanto vai envelhecendo o outro,
A carne do verso é sempre nova.
Repara melhor: é também teu corpo,
Pois tu que me lês não ficas de fora:
Sílaba a sílaba, traço-te o rosto
Onde meu olhar, feliz, se demora.
Habitamos os dois este soneto:
Ao evocar-te, nele te esculpi,
E passo a ter a tua companhia.
Mas deixar-te partir eu não prometo,
Nenhum de nós pode sair daqui,
Que o soneto depois se desfazia.
António Simões, in "Soneto de Água e Outros".

4 comentários:

Anónimo disse...

Lindo, António Simões.
Um abraço, Poeta!

Anónimo disse...

É, de novo, a doçura feita poema.

Anónimo disse...

Em contrapartida, António Simões tem, em si, a magia da palavra.

Anónimo disse...

subscrevo inteiramente o que escreveram, meus amigos. cabe ao Poeta agradecer. nós ficamos em suspenso...