07/11/2005

Parabéns Sophia, com um dia de atraso


Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no dia 6 de Novembro de 1919, no Porto, e aí viveu até aos 10 anos, altura em que se mudou para Lisboa.
O ambiente da sua infância reflecte-se em imagens e ambientes presentes na sua obra. Os Verões passados na praia da Granja e os jardins da casa de família ressurgem em evocações do mar ou de espaços de paz e amplitude. A civilização grega é igualmente uma presença recorrente nos versos de Sophia, através da sua crença profunda na união entre os deuses e a natureza, tal como outra dimensão da religiosidade, provinda da tradição bíblica e cristã.
A sua actividade literária ( e política ) pautou-se sempre pelos ideais de justiça, liberdade e integridade moral. A depuração, o equilíbrio e a limpidez da linguagem poética, a presença constante da Natureza, a atenção permanente aos problemas e à tragicidade da vida humana são reflexos de uma formação clássica, com leituras, por exemplo, de Homero, durante a juventude.
A sua obra literária encontra-se traduzida em França, Itália e nos Estados Unidos da América.
Em 1994 recebeu o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores e, no ano seguinte, o Prémio Petrarca, da Associação de Editores Italiana. O seu valor como poeta e figura da cultura portuguesa, foi também reconhecido através da atribuição do Prémio Camões, em 1999.
Em 2001, foi distinguida com o Prémio Max Jacob de Poesia, num ano em que o prémio foi alargado a poetas de língua estrangeira.
Em Dezembro, desse ano, saiu a obra poética Orpheu e Eurydice, onde o orphismo está, mais uma vez, presente, bem como o amor entre Orpheu, símbolo dos poetas, e Eurídice, que a autora recupera num sentido diverso do instaurado pela tradição helénica.

As pessoas sensíveis não são capazes
de matar galinhas
porém são capazes
de comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
à roupa do seu corpo
aquela roupa
que depois da chuva secou sobre o corpo
porque não tinha outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
a roupa
que depois do suor não foi lavada
porque não tinha outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
assim nos foi imposto
e não:
"com o suor dos outros ganharás o pão".

Ó vendilhões do templo
ó construtores
das grandes estátuas balofas e pesadas
ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Poetas escolhem Poetas".Posted by Picasa

3 comentários:

Anónimo disse...

Este belíssimo poema de Sophia faz-me lembrar um outro que não posso deixar de recordar alguns versos escritos premonitoriamente:
"A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça
naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente
eu agarrava-me à praça porque tu amavas
a humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas
onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas
eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer
e a vida toda deixava ali de ser a minha..."

Obrigada, meus amigos, por se terem lembrado da grande Poeta lusa.

Anónimo disse...

Não sabia que Sophia de Mello Breyner tinha nascido a 6 de Novembro. É muito bom que haja blogues como este que ainda dão importância a estas coisas.
Viva a POESIA!Viva os POETAS!

Anónimo disse...

obrigada, meus Amigos...convosco vamos criando teias de cumplicidades...literárias.