30/06/2005
xeque-mate
29/06/2005
É tão fácil dizer que saem dos olhos das mulheres andorinhas verdes
José Gomes Ferreira ( 1900-1985 ) nasceu no Porto e faleceu em Lisboa. Foi poeta e ficcionista. Pertenceu à geração do Novo Cancioneiro, com influências surrealistas, simbolistas e, sobretudo, neo-realistas. A sua voz de protesto contra o mundo desconcertante, opressor e, simultaneamente, monótono do seu tempo, fê-lo um "poeta militante" intemporal. A sua vasta obra - Poesia Militante, vols I, II e III; Aventuras de João Sem Medo ( histórias humorísticas do mundo juvenil ), Tempo Escandinavo ( contos, 1969 ), e o Sabor das Trevas ( romance-alegoria 1976 ) são algumas das suas obras de ficção. No que concerne à literatura de memórias escreveu - Imitação dos Dias - Diário Inventado ( 1965 ), A Memória das Palavras ou o Gosto de Falar de Mim ( 1965 ), Calçada do Sol ( 1983 ), Dias Comuns - I. Passos Efémeros ( obra póstuma, 1990 ), Dias Comuns - II. A Idade do Malogro ( obra póstuma, 1999) - reflecte toda uma urgência social e o seu imensurável desejo de mudar o Mundo, o que acreditava fazer através da palavra. É tão fácil dizer que saem dos olhos das mulheres andorinhas verdes
À Maria do Sameiro Barroso
sem disfarce / POESIA
dizer a todos os homens
nascidos antes de ti
- obrigada companheiros vai
LIBERTA / prisioneira
altiva / humilde
cativa e
d
i
z
d
i
z
d
i
z
d
i
z
que adormeceste em seus braços
quando acordaste / POESIA vai
eco
de
minha
voz
dizer que neles nasceste
nua
impúdica
mas
a
saber
porquê gabriela rocha martins, 12 maio 2005
28/06/2005
As Cavalgadas Vazias
vazias,
nos versos que os rios aclaram.
Já não me oculto entre florestas invisíveis.
De regresso às estrelas, os olhos brilham. Em Praga, o rio Moldava, a música
de Smetana, os castelos ilógicos
- a sombra de Kafka.
Nos plátanos escuros, a luz
onde os poetas se abrigam espalha
a água, as fórmulas mágicas,
a lua secreta. Vencidos os inimigos interiores,
as muralhas desmoronam-se
e a luz canta a maresia, o sol
- o ouro nocturno,
quando as ondinas entoam os seus
cânticos luminosos, compostos em louvor dos rios. Maria do Sameiro Barroso
Luís Vaz de Camões
Poeta, ( 1524? - 1580? )
Quando tudo aconteceu... 1524 ou 1525 - datas prováveis do nascimento de Luís Vaz de Camões, talvez em Lisboa;
1548 - Desterro no Ribatejo. Alista-se no Ultramar;
1549 - Embarca para Ceuta. Perde o olho direito numa escaramuça com os Mouros;
1551 - Regressa a Lisboa;
1552 - Numa briga, fere um funcionário da Cavalariça Real e é preso;
1553 - Libertado, parte para o Oriente;
1562 - É preso por dívidas não pagas; é libertado pelo vice-rei Conde de Redondo e distinguido seu protegido;
1570 - Regressa a Lisboa;
1572 - Sai a primeira edição d'Os Lusíadas;
1579 ou 1580 - morre de peste, em Lisboa.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía. Mirna Queiroz, in vidas lusofonas.pt/luis_de_camoes
27/06/2005
Solidaricemos con los poetas presos políticos de Chile
Poetas del Mundo
Dia 18, 06:27 ( Caderno do algoz )
O Portugal futuro
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro. Ruy Belo, in "Homem de Palavra(s), 1969
26/06/2005
Armação de Pêra
num pequeno almoço eterno
quando
a urbanização dos grandes conjuntos
me atira
ao espaço reduzido da areia depenico esta ilha de autómatos
onde
os corvos edificam os ninhos
as gaivotas denunciam os marginais passo dedos por frias estátuas de carne
representando gestos de impaciência ( bocas escancaradas na calúnia
são o presente do verbo ouvir
são as bicas aquecidas na rotina ) vejo-as coaguladas no tempo que não fazem
alinhadas no areal ( são resíduos dum pôr de sol cinzento
sustentáculos petrificados
dum intelecto que não funciona ) mergulho nesta ilha de autómatos
e
sinto-me como um feto
conservado num frasco de fenol gabriela rocha martins, in "Hydra", 2005 ( inédito )
1 primeira narrativa da cidade
Beja
agarrei
as praças / a humanidade / os montes
e procurei
uma vida não minha era preciso sorrir
sorri
vivi
o grito
eco de praças / humanidade / montes
muito mais além
parti
colado em mim . o gosto acre da terra queimada. gabriela rocha martins, in "Hydra", 2005 ( inédito )
23/06/2005
Dia 19, 13:54
22/06/2005
aforismo
O requinte dos sábios saboreia-se depois da sobremesa.
Augusto Mota, in "Metáfora", 1962 ( inédito )
O Sopro ( Apache )
a travessia da vazante
5ª sinfonia de Beethoven
e o nevoeiro de fim de tarde cai tornando irreais os corpos e os seus contornos
Acabo de arrumar o carro / e
ao desligá-lo / armazeno um saber feito de insapiências
Sento-me frente ao computador / de costas viradas para a janela / Na moldura
frente ao alpendre restam duas casas / A primeira impõe-se pela sua despida ausência / as
paredes decrépitas erguem-se às núvens e a mim
A segunda / nova
grita a sua vontade de ser
O homem pássaro / o novelo agita-se
o braço e a asa deslocam-se do novelo / A música aumenta o
bater da asa / no extremo / a mão quebra
projectada no ar / onde dançam os dedos ou as penas prontas a cair
e a enroscar-se no novelo
Destaca-se a cabeça / o queixo e o bico cortam o ar e
o olhar fixa-se na presa
recomeça o enrolar e o desenroscar do corpo
uma perna / uma asa / um braço
exibem frémitos de vida e força
no auge dos compassos heróicos / ( 5ª sinfonia de Beethoven )
Eis-me pronta a desafiá-lo/ como afronta à sua dimensão
exibo o meu corpo nú e danço / solta
no limite do cansaço
gabriela rocha martins, in "Hydra", inédito, 2005
21/06/2005
O Verão. O Senhor da Natureza
www.paginas.terra.com.br/arte/wicca
A Grande Mãe e o Deus Cornífero
Princípio Masculino
Neste dia o sol atinge a sua plenitude. É o dia mais longo do ano. O Deus Cornífero chega ao ponto máximo do seu poder. Este é o único sabá em que o seu poder é enorme. É hora de coragem, energia e saúde. Mas é necessário não esquecer que, embora o deus esteja na sua plenitude, é, também, nessa hora que ele começa a declinar. Logo, ele dará o último beijo à sua amada, a deusa, e partirá no barco da morte, em busca da terra do Verão. Tudo no Universo é cíclico.
Excertos de "A Religião da Deusa" de Claudiney Prieto
21 de Junho. Solstício do Verão
Solstício deriva do latim que significa "o sol detém-se".
São movimentos aparentes do sol, já que na realidade é a terra que se move, mas o seu efeito é resultado dos movimentos de transladação e inclinação do eixo terrestre.
Deusa Criadora de Tudo
Mãe Natureza. Wicca Quem é ela?
Ela é a Jovem
de olhos brilhantes sem medo no coração
ela traz o amanhecer.
Ela é a jovem
o sonho ousado
que caminha só. Ela caminha só
crescente de prata
amada donzela
Jovem, venha.
Quem é ela?
Ela é a amante,
seus ossos e sangue são a terra.
É ela quem nos sustenta
abençoada lua cheia,
sagrada senhora
Mãe, venha.
Quem é ela?
Ela é a Velha
que sobreviveu além do medo
amável e sábia
que conduz a vida.
Dourada minguante
honrada Anciã
Velha, venha.
Quem é ela?
19/06/2005
Garabato/Garatuja - Noche de Verano/Noite de Verão
Octavio Paz nasce na cidade do México, em 31 de Março de 1914. Foi Prémio Nobel da Literatura em 1990, e autor de "Pedra do Sol" e "Signos em Rotação", entre outros.