A pele porosa do silêncio
agora que a noite sangra nos pulsos
traz-me o teu rumor de chuva branca. O verão anda por aí, o cheiro
violento da beladona cega a terra. Cega também, a boca procura
trabalhos de amor. Encontra apenas
o nó de sombra das palavras. Palavras...Onde um só grito
bastaria, há a gordura
das palavras. Palavras -
quando apetecem claridades súbitas,
o sumo estremece, a ponta extrema
do teu corpo, arco, flecha,
corola de água aberta
ao fogo a prumo do meu corpo. Do chão ao cume das colinas,
eis as areias. Cala-te.
Deita-te. Debaixo dos meus flancos.
A terra toda em cima. Agora arde. Agora. Eugénio de Andrade, in "Poetas Escolhem Poetas"
Sem comentários:
Enviar um comentário