e o nevoeiro de fim de tarde cai tornando irreais os corpos e os seus contornos
Acabo de arrumar o carro / e
ao desligá-lo / armazeno um saber feito de insapiências
Sento-me frente ao computador / de costas viradas para a janela / Na moldura
frente ao alpendre restam duas casas / A primeira impõe-se pela sua despida ausência / as
paredes decrépitas erguem-se às núvens e a mim
A segunda / nova
grita a sua vontade de ser
... ...
este o cinzento aberto ao imaginário
... ...
O homem pássaro / o novelo agita-se
o braço e a asa deslocam-se do novelo / A música aumenta o
bater da asa / no extremo / a mão quebra
projectada no ar / onde dançam os dedos ou as penas prontas a cair
e a enroscar-se no novelo
Destaca-se a cabeça / o queixo e o bico cortam o ar e
o olhar fixa-se na presa
... ...
recomeça o enrolar e o desenroscar do corpo
... ...
uma perna / uma asa / um braço
exibem frémitos de vida e força
no auge dos compassos heróicos / ( 5ª sinfonia de Beethoven )
Eis-me pronta a desafiá-lo/ como afronta à sua dimensão
exibo o meu corpo nú e danço / solta
no limite do cansaço
gabriela rocha martins, in "Hydra", inédito, 2005
2 comentários:
Um belíssimo "golpe de rins" do imaginário poético
Olá, António...as tuas palavras aquecem mesmo quando o calor aperta ( sobretudo quando sabemos)
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