Foi, ao percorrer outros blogues, na constante procura dos Outros, que, a dado passo, dei com o "extravasar.blogspot.com" de Ângelo Rodrigues, e, "à surrelfa", transcrevi o belíssimo texto "Do Amor", de que é autor, do mesmo modo que não resisti à tentação de publicar uma das suas telas. Uma das que mais gosto...também pelo título - Última Pista Para o Graal - assinada, obviamente, pelo seu heterónimo Miguel d'Hera....
...................
E esta necessidade de colocar máscaras, como celebração do silêncio, leva-me a escrever o presente texto, qual desconcertante imperativo
..................
desculpa fragmentada para o Ângelo e para o Miguel!
A maioria dos escritores, utilizam a palavra a fim de mascarar as suas emoções mais vivas. É a celebração do silêncio, quando o imperativo de uma carreira se salda por uma desconcertante angústia. Os diários, as memórias, as autobiografias de um Dostoievsky ou de um Kafka, como os "Diários" de Vergílio Ferreira, levam-me a saber, por experiência, que o acto de escrever está impregnado de uma exigência de absoluto tão forte, que a própria intangibilidade transforma em dor, em tristeza, em tormento, outrossim, em apoteose, em alegria, em canto.
Vergílio Ferreira sabia-o melhor do que ninguém, razão porque nunca se assumiu como Orfeu predicador.
Claro que a morte resolve muitas coisas, até a absurda democracia do nada, do vazio.
Mas Vergílio Ferreira, como a grande maioria dos escritores, nunca resolveu o grande problema da sua vida: a necessidade de ter amigos, muitos amigos; a urgência de ser amado, muito amado. Todo amado, diria mesmo.
A sordidez da vida, porém, com o decorrente cortejo de invejas e despeitos, nunca lhe perdoou a circunstância de ter sido lido, filmado e traduzido.
O interesse de Vergilio Ferreira pelo Outro, pelos Outros, era a projecção do seu Eu, prisioneiro de desencantos.
Tal como Manuel da Fonseca e/ou Carlos Oliveira ( dois grandes escritores do neo-realismo português ) Ferreira sabia que o poder da literatura, aliás, como todo o poder, é extremamente precário. A literatura não faz revoluções.
As revoluções, habitualmente, alteram a literatura. Melhor, substituem ou modificam as cosmovisões literárias.
O empreendimento de Vergílio Ferreira, em meu entender, consistiu em relatar um tempo existencial, um permanente ser ou um existir sendo. Jean Paul Sartre era seu par.
Poucos dias antes de morrer, conservava, ainda, o carácter interpelativo que nenhuma violência ou agressão tinham conseguido debelar. E perguntava- Lá fora, que se passa? E os Outros?.
Vergílio Ferreira sabia que os escritores não fazem revoluções.
A verdade, porém, é que nenhum repousa ao sétimo dia - acaso minto, Ângelo/Miguel? - apesar de lhes pertencer o reino dos céus - afirmam certos aguadeiros da crítica, exercitados na risível tarefa de serem portadores das vozes e das ideias alheias....
...Estamos em Paris, durante um curto mas interessante encontro entre Vergílio Ferreira, Agustina Bessa-Luís e José Saramago.
Agustina mostrava-se preocupada e, ao mesmo tempo satisfeita, com um sonho recente:
- sonhei que Deus me tinha enviado um anjo para me dizer que eu era o melhor escritor português.
- Tem piada - disse Saramago - eu tive um sonho igual. Um anjo enviado por Deus disse-me exactamente a mesma coisa.
Vergílio, até aqui calado, absorto, acorda e diz, espantado:
- Ora essa! Não me lembro de vos ter enviado ninguém.
gabriela rocha martins
4 comentários:
E ao sétimo dia Deus fez a Mulher...Obrigada, Vergílio!
Gloria, Gloria in excelsis Deo!
A grande gargalhada cósmica.
o agradecimento impõe-se, apenas, pelo texto.ou talvez não!
best regards, nice info
» » »
Enviar um comentário