( em cena uma criança/só )
dentro de mim guardo o sol
trago na boca o livro e o grito
traduzo a incerteza do universo
não acreditam?
já sei
não sei desenhar
*
( procura actuar a consciência )
viver e ser coerente
querer e saber ser livre
nas grades do tempo / não
destruam presenças / mas
respeitem as reticências
*
( no poscénio
aparece uma mulher de negro )
se os ratos vierem
não os deixem roer tudo
guardem as palavras / e
construam cidades
o sol
nunca será um palhaço de luz *
( lugar à multidão que reage
quando
se ouve a voz dum POETA )
hoje
podem bater à porta / não respondo
hoje
é tempo
de reunião de homens / bichos
venham todos amanhã
hoje
não
hoje
batam à porta
.não respondo.
gabriela rocha martins, in "Hydra", 2005, inédito
4 comentários:
Quando a resistência toma forma.
O texto tem a força intrínseca, como ao contrário pode parecer, numa leitura muito superficial, como pressuposto de esperança.
É preciso estar atento aos signos!
Um sedutor jogo em que tudo ou nada é dito...o mistério...o para além do texto.
A máscara do real.
Para quem, como eu te conheço, gabriela, quanta desilusão! Um grito, Mulher!
Refúgio.
apenas e tão só...OBRIGADA.
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