Hoje vou contar-vos uma história.
Há muitos, muitos anos, no País do Sol, vivia um pequeno príncipe.
Cotumava correr entre os canteiros do jardim do palácio, montado no seu cavalo de pau. Sonhava com grandes montarias, com as batalhas que ouvia contar aos conselheiros de seu pai, o rei.
O canteiro das rosas era o seu preferido. Semeadas em filas e sobre um quadrado branco, faziam-no imaginar um imenso exército com o qual combatia e sempre saía vencedor.
O principezinho era quase, quase feliz.
Algumas vezes, no meio das suas cavalgadas, parava, e, ouvindo, nas ruas, as gargalhadas dos meninos da sua idade, brincando juntos, pensava como era bom ter um amigo. Alguém com quem pudesse partilhar as suas aventuras imaginárias.
E por vezes sentia-se triste.
Então, os seus olhos claros escureciam e a solidão das tardes demorava o galopar do seu cavalo de pau.
Numa noite, em que o temporal não o tinha deixado adormecer, mais só se sentia o pequeno príncipe.
Suavemente, porém, alguém se sentava na sua cama, lhe afagava o rosto e fazia desaparecer o medo - a mãe.
... e a pouco e pouco o principezinho adormeceu... ... sonhou com o sol, com os outros meninos e com longas correrias, montados nos seus cavalos de pau...
Levantou-se, vestiu-se de mansinho, agarrou a montada, atravessou os corredores, os jardins do palácio e saiu.
Percorreu as ruas da sua cidade, e, numa das principais, encontrou um grupo de homens que saía de uma taberna. Falavam alto e as suas vozes enchiam a noite escura. Uma onda de calor humano parecia envolvê-los.
Como era bom encontrar-se entre os seus semelhantes.
Aproximou-se. Procurou falar-lhes. Aquecer-se naquelas palavras enormes e quentes. Dois reconheceram-no e riram-se. Depois mais dois e mais dois. Por fim, todo o grupo se virou e as gargalhadas irónicas encheram de tristeza o coração do pequeno príncipe.
No céu, a noite dava lugar à madrugada e o temporal passava. Regressava o sol ao reino do Sol.
Sentado no chão, junto do cavalo de pau, o pequeno príncipe chorava. Sentia-se desanimado e vencido na sua tentativa de aproximar-se dos outros.
De repente, uma mãozinha do tamanho da sua pousou-lhe no rosto. Abriu os olhos. Ao lado do seu, descansava outro cavalo de pau. Na sua frente, um menino de cabelos da cor do sol, sorria-lhe. Convidava-o a montar. Juntos percorreram as ruas da cidade. A tristeza desapareceu do coração do pequeno príncipe e uma imensa alegria levou-o a cumprimentar quem encontrava. ... suavemente o príncipe acordou... Sorriu ao ouvir nas ruas as gargalhadas dos meninos da sua idade, brincando juntos.
Espreguiçou-se, muito, muito devagar.
Levantou-se lentamente, vestiu-se e pegou no seu cavalo de pau.
Então acelerou os passos. Esgueirou-se ligeiro, antes que alguém, no palácio, o visse e/ou atarapalhasse os seus planos. Saiu.
Na esquina da rua, à direita, sentado no chão, junto de um cavalo de pau, estava um menino. O principezinho aproximou-se e tocou-lhe no ombro. O menino de olhos da cor da noite levantou o rosto. Abriu um largo sorriso, pegou no seu cavalo de pau e desafiou-o, partindo disparado.
A partir de então, no país do Sol, todos os canteiros dos jardins, todas as flores e todas as pessoas se abriam num longo sorriso, quando, de longe ou de perto, ouviam o principezinho e o seu amigo de olhos da cor da noite que, montados nos seus cavalos de pau, de passagem, lhes gritavam -
- Bom dia, AMIGOS! gabriela rocha martins, silves, 12 de Maio de 2005
6 comentários:
Uma escrita delicada, contudo forte e profunda.
Vale, sobretudo, pela sensibilidade
Uma escrita desempoeirada, firme, clássica e culta.
Um verdadeiro hino à amizade sem ser lamechas.
Um classicismo que se harmoniza com a solidez da estrutura narrativa.
Uma pequena delícia natural nesta autora ( para quem te conhece, Gabriela )
Se o poeta é um fingidor, então o contador?
Meus Amigos!
são palavras como as vossas que me levam a ir sempre mais além...e, por todos vós, evitar ficar aquém.
muítissimo obrigada.
quanto a ti, "Principezinho", nós depois falamos os dois, a sós...!
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