Neste país
onde se morre de coração inacabado
deixarei apenas três ou quatro sílabas
de cal viva junto à água. É só o que me resta
e o bosque inocente do teu peito
meu tresloucado e doce e frágil
pássaro das areias apagadas. Que estranho ofício o meu
procurar rente ao chão
uma folha entre a poeira e o sono
húmida ainda do primeiro sol. * Entre obscuras sementes a mão recolhe
a luz dos lódãos:
as suas águas são a pedra do crepúsculo. Entre a festa e a morte
que fizeste da manhã? - pergunta
insiste o vento. Com um rumor de neve ou de animal
moribundo fiz o anel e a casa:
assim o deserto cresce sobre o coração. Eugénio de Andrade, in "Poetas Escolhem Poetas", Porto 1992
2 comentários:
Há poetas que jamais morrem.
Adeus, não.
Até logo, Eugénio de Andrade.
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