03/07/2005

Silves, Capital da Palavra Ardente, dois dias depois

Al Mu'tamid traçara-lhe o destino, a rota do Sul,
as cores fortes, a fronte clara, a herança mourisca.
Dois dias depois, uma a uma, guardo todas as suas pétalas,
os seus ramos altos, as suas reminiscências odorosas.
Silves, pátria de luz e de poesia.
Nos seus rios, correm lendas antigas, desdobradas
em murmúrios ávidos, incendiados junto às laranjeiras
abertas, em suas copas de magia.
Silves. Dois dias depois, recordo a sua igreja, o seu castelo,
a sua terra vermelha,
o Foral que lhe concedeu a liberdade.
Silves, pátria de céu e aroma.
Silves. Porque a palavra arde e o silêncio urge.
Do seu clamor exuberante, recolhi os seus versos,
a sua atmosfera túmida, a harmoniosa centelha.
Dois dias depois, sobre candelabros flutuantes,
recordo as suas gentes, a sua candura, as suas fontes,
nos dias floridos, inebriados,
junto às suas bandeiras de lume e os beirais,
onde os pássaros debicam, no hálito fresco da noite,
seu corpo azul de alegria.
Maria do Sameiro Barroso, Sesimbra, 2005

9 comentários:

Anónimo disse...

Poeta, deixa a poesia fluir entre teus dedos alados.
Esvoaçam colibris entre ti e Al-Mutamid o rei-poeta.
Silves serviu-vos alasbastro.

Anónimo disse...

Mais um poema muito bonito.
Obrigada, Maria do Sameiro

Anónimo disse...

Sou apenas um viajante das estrelas que, mais uma vez e não por acaso, aterrou aqui.

Anónimo disse...

Do sul,
um obrigada a um poema feito ao sul.

Anónimo disse...

O abraço de Silves a quem assim a descreve, poeta!

Anónimo disse...

Encantou-me o poema pelo seu aroma a sul, a mar, a branco e azul, a flor de laranjeira, a aloendros, a evasão para origens dolentes, ricas de fantasia e ternura. Ando "lendo" - "Al-Mu'tamid/poeta do destino" e "O meu coração é árabe" - creio que o meu também, pela inexplicável atracção de toda a minha vida pelo Sul, pelo Al-andaluz, história, poesia e música.
Parabéns, poeta.
Fernanda.

Anónimo disse...

( porque em mim não apenas o coração é árabe )

"A leitura

Minha pupila liberta
Quem da página é cativo:
O branco, da margem certa
E da palavra, o negro vivo.

Ibn 'Ammar"

(explicando a inexplicável atracção)

Anónimo disse...

Deliciosa subtileza do sentir dos poetas árabes como Ibn 'Ammâr (el-Andalusî) e Al-Mu'tamid cujos destinos foram belos e trágicos. Em Abril, em Sevilha, ao visitar o Alcazar, senti como os destinos destes homens estavam ligados e a comunhão que ambos estabeleceram entre Sevilha e Silves através da sua saudade.
" o curso do regato vai fluindo
tal como seu dorso vai luzindo.
o vento poente o véu tirou
e o segredo da desgraça desvendou..."
Ibn 'Ammâr - O drama de um poeta
Fernanda.

Anónimo disse...

muito mais complexo, e, só entendível no contexto em que foi vivido, o "drama" destes dois homens...a ambição de um, a necessidade do outro, face à conturbada existência dos reinos taifas...porém, a poesia de ambos.

( muito embora, eu prefira Al-Mu'tamid, o esteta.)