16/07/2005

( sortilégio )

Quantos barcos nos dizem adeus, ou quantos soluços amarramos na própria garganta? Quantos braços voam até nós, ou quantas vontades sacrificamos num olhar? Por vezes tudo é tão simples e sentimos como que água fresca nos pulsos e banhamos o rosto nas mãos, nas nossas próprias mãos. As outras, aquelas que são ilusão do olhar, ou sortilégio da cabeça, guardamo-las para outras ocasiões, quando o desespero ou nos fere, ou joga connosco às escondidas. Nesse jogo fortuito vamos animando os barcos da nossa regata, ou ancorando-os na esperança, que também é água.
Todos marítimos, somos piratas de um absurdo. As ondas vão e vêm como os dias e as horas dos dias.
Augusto Mota, in "O Artifício da Loucura", 1964 ( inédito )

9 comentários:

Anónimo disse...

Loquaz o jogo entre a imagem e o texto.
O absoluto atingido como, Augusto?

Anónimo disse...

E quantos barcos voltarão carregados de novos sonhos à barra de um novo dia?

Anónimo disse...

O subtil.
O "sortilégio" de quem escreve e o "privilégio" de quem lê.

Anónimo disse...

Parabéns, amigo Augusto Mota!
Aquele abraço.

Anónimo disse...

Teresa, visitante como és deste blogue conheces muito bem a mística do Augusto Mota. então, qual a surpresa?

1 bj

Anónimo disse...

todos os que o sonho abarcar,Teresa!

Anónimo disse...

indubitavelmente!

Anónimo disse...

Espero, espero veementemente, que este texto - Sortilégio - não tenha sido o prenúncio de um fim...
Estou muito mal habituado.
Preciso, ao visitar este blog, de encontrar os magníficos textos dos Poetas e as imagens do Pintor.
A Arte assim o exige...
Regressem breve, António Simões, Gabriela Martins, Maria do Sameiro, Maria Eugénia, Sandro...Augusto Mota e os que companhia vos fazem.

Anónimo disse...

Porquê este demorado silêncio?
Carregar de baterias?
Ok!